'Desafio é viabilizar conectividade para todos', diz Guilherme Belardo, da Climate
Paulo Beraldo
SÃO PAULO - Boa parte dos avanços necessários para a agricultura brasileira - como a intensificação do uso de tecnologias e ganhos de eficiência na produção -, são freados pela falta de conectividade no País. Um dos principais problemas de infraestrutura que reduz a competitividade do agronegócio nacional, a falta de conectividade atrapalha ainda mais os produtores de pequena e média escala, a maioria no Brasil.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1.425.323 declararam ter acesso à internet em 2017. Seis em cada dez usuários realizam alguma atividade de seu trabalho no smartphone.
Para atenuar esse problema, oito empresas com atuação em diferentes segmentos do agronegócio - de produtores de máquinas agrícolas a companhias de telecomunicações - se uniram e lançaram este ano o projeto ConectarAgro. O objetivo é conectar cinco milhões de hectares até o fim de 2019.
"Um dos grandes desafios é encontrar a forma de viabilizar a conectividade para todos", disse Guilherme Belardo, gerente de produto da Climate, braço de agricultura digital da Bayer na América do Sul, em entrevista ao De Olho no Campo.
Além da Climate, fazem parte do grupo as marcas Massey Ferguson, Valtra, Case IH, New Holland, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble.
Belardo cita o potencial de cooperativas serem facilitadoras nesse processo. Uma cooperativa ou uma associação de produtores poderia fazer parte do processo adquirindo a tecnologia, por exemplo. "Se tiver 10 mil pequenos agricultores na região e cada um deles tiver 30 hectares, a iniciativa já atenderia todos eles. Eles podem olhar e ver a necessidade de conectividade 4G e instalar uma torre que vai atender toda a comunidade. As pessoas acham que isso é só para os grandes, mas não é verdade. A conectividade beneficia toda a região, não só a comunidade agrícola".
Onde se concentrarão os principais investimentos e ações do projeto? Quais os resultados obtidos até agora?
O ConectarAgro é uma iniciativa que visa contribuir para consolidar e expandir o acesso à internet nas mais diversas regiões agrícolas brasileiras, para que os agricultores possam adotar tecnologias onde a conectividade é necessária. As ações serão no Brasil como um todo, não tem região específica. Desta forma já se definiu a tecnologia 4G - 700MHz, que cobre grandes áreas com menor infraestrutura, como a tecnologia viável pela iniciativa no seu início.
O objetivo da iniciativa é conectar 5 milhões de hectares, sendo 1 milhão de pequenos agricultores, até o final do ano. A gente já tem alguns produtores interessados, mas ainda não temos resultados, pois o anúncio da iniciativa foi no começo de maio, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).
O avanço do agronegócio no Brasil esbarra na falta de conectividade e na infraestrutura na maior parte das propriedades, em especial nas pequenas e médias. Como é possível dar escala e capilaridade para que o acesso à conectividade e, consequentemente, a maior produtividade, seja possível para os pequenos agricultores?
A iniciativa ConectarAgro surgiu por conta do problema de falta de rede e internet no campo e vai permitir uma análise 360º do problema, com o propósito de ter redes de acesso que apresentem viabilidade técnica e econômica de implantação em grande escala. O ConectarAgro é uma iniciativa que visa a promoção de conectividade num padrão global válido para toda comunidade agrícola, grandes, médios e pequenos agricultores, incluindo os da agricultura familiar.
Um dos grandes desafios é encontrar a forma de viabilizar a conectividade para todos, reforçando a grande relevância dos pequenos produtores na produção agrícola brasileira. A iniciativa não é fechada para grandes agricultores. Uma cooperativa, por exemplo, pode fazer parte e comprar conectividade 4G ou distribuir isso por meio dos cooperados.
Se tiver 10 mil pequenos agricultores na região e cada um deles tiver 30 hectares, a iniciativa já atenderia todos eles. Isso pode acontecer com uma cooperativa, associação, um pool de produtores. Eles podem olhar e ver a necessidade de conectividade 4G e instalar uma torre que vai atender toda a comunidade. As pessoas acham que isso é só para os grandes, mas não é verdade. A conectividade beneficia toda a região, não só a comunidade agrícola.
Acredita que o conceito de inovação aberta vai favorecer a conectividade no campo e é uma tendência para os próximos anos?
Sim. Quando falamos em internet das coisas no campo, em conectar sensores, máquinas, drones e estações meteorológicas, temos uma quantidade de informação muito grande. Isso é o que nos levou a trabalhar em prol dessa conectividade, para realmente assegurarmos a nossa competitividade como agricultura no Brasil.
A conectividade beneficia não só uma marca ou produto, beneficia todo mundo. A plataforma Climate FieldView, por exemplo, não é um produto sozinho. Ela se conecta com outras soluções e gera mais valor ao agricultor. Isso vai fazer com que esse valor de investimento em conectividade se dilua ainda mais, gerando mais valor, mais insights, redução de custos, aumento de produtividade, rentabilidade e facilita a adoção de tecnologias digitais para a agricultura.
Como avalia o papel do cooperativismo e do associativismo para a difusão da conectividade?
Se houver uma cooperativa que queria ajudar nesse desenvolvimento, ela pode investir e isso ser diluído aos cooperados. O cooperativismo e o associativismo estão totalmente ligados à difusão da conectividade e têm um papel fundamental nesse processo. Essa inclusão digital poderá permitir que o agricultor tenha maior acesso à educação e inúmeros outros benefícios.
Ele poderá também usufruir, de forma completa, dos recursos disponíveis hoje de agricultura de precisão e automação, além de ter acesso a uma infinidade de novos produtos e serviços habilitados com a existência da conectividade, podendo, assim, otimizar o seu negócio.
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