Precisamos mostrar sustentabilidade com indicadores tangíveis, diz José Carlos Pedreira

Paulo Beraldo 

SÃO PAULO - O Brasil precisa avançar cada vez mais na união da conservação dos recursos naturais com a produção de alimentos, avalia o consultor José Carlos Pedreira de Freitas, sócio-gerente da Hecta, empresa focada em gestão, sustentabilidade e responsabilidade social voltada aos agronegócios.

Segundo o consultor, é perda de tempo ter um debate público polarizado e pouco qualificado como o atual, que ao invés de tornar tangíveis os ativos agroambientais do Brasil, transformando-os em vantagens competitivas, acaba por representar crescentes barreiras protecionistas na agenda internacional.

"É preciso avançar na agenda para reforçar essa indispensável conexão entre produzir e conservar, construindo políticas públicas que tornem tangíveis nossos atributos de sustentabilidade e proporcionem a justa compensação por esses serviços prestados", disse em entrevista em seu escritório ao De Olho no Campo.

"É preciso identificar e mensurar essas qualidades para transformá-las em vantagens competitivas e assim vendermos melhor nossos produtos - aqui e no exterior", afirmou o especialista, que é parceiro do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), da EAESP/FGV e membro do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp.

Nos últimos 50 anos, o Brasil passou de importador de alimentos para um dos mais importantes produtores e exportadores. Hoje, alimentos produzidos aqui vão para aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas ao redor do mundo. No entanto, falta, na opinião do especialista, disseminar e reconhecer os atributos de sustentabilidade dos modelos tropicais de produção - superiores sob a ótica ambiental - da agricultura e da pecuária que se faz nos países temperados.

Especialista defende união de conservação e preservação ambiental. Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo

'Mensagem'

Segundo José Carlos, “não adianta matar o mensageiro”: é preciso ouvir a mensagem que os consumidores e o mercado têm passado, e não lutar contra ela.

"Tem um mensageiro trazendo essa notícia de que a sociedade não vai mais comprar se não souber como e onde foi produzido. Não é matando o mensageiro que vamos acabar com a mensagem", diz.

Pedreira diz que práticas como as de agricultura e pecuária de baixa emissão de carbono, a integração lavoura-pecuária-floresta - hoje presente em cerca de 14,6 milhões de hectares - e o plantio direto na palha são modelos a serem cada vez mais estimulados e mostrados.

Em sua opinião, é fundamental desenvolver indicadores que tornem tangíveis e mensuráveis tais atributos de sustentabilidade. "Não pode ser nada abstrato, não pode ser apenas um conceito. Se diz que tem biodiversidade, é qual biodiversidade? Se tem floresta, quanto e onde? Se é carbono, qual o balanço líquido de emissões?", diz.

Liga do Araguaia
Um dos projetos em que Pedreira está envolvido é a Liga do Araguaia. Iniciativa de pecuaristas do médio Vale do Araguaia com o apoio do Grupo Roncador, o grupo foi criado há cinco anos e engloba atualmente cerca de 63 fazendas e 150 mil hectares de pastagens no Leste do Mato Grosso.

O objetivo é intensificar a pecuária sustentável na região, estimulando  a adoção de boas práticas ambientais e sociais, para que isso se transforme em ativo nos mercados interno e internacional. O grupo tem obtido certificações nacionais e internacionais, e implanta seus projetos através de tem parcerias estabelecidas com empresas e organizações nacionais e internacionais.

"É preciso reconhecer e valorizar porque demanda altos investimentos produzir dentro dos modelos exigidos".

Evento com produtores da Liga do Araguaia em Mato Grosso.

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