Entrevista com Ronaldo Trecenti, especialista em sistemas integrados de produção e agricultura sustentável

Paulo Palma Beraldo

Conhecida por ser uma das mais promissoras formas de se produzir no planeta, a integração lavoura-pecuária ganha cada vez mais adeptos no país, principalmente em um cenário de aquecimento e onde a sustentabilidade deve ser o objetivo dos produtores. 


Estimativas da Embrapa apontam para 2 milhões de hectares ocupados pela técnica no país. 

Sistemas integrados de produção combinam cultivos de árvores (eucalipto, teca, pínus, seringueira entre outras), com produção de grãos e criação de animais (gado, cavalos, ovinos e até aves). 

Os sistemas integrados caracterizam a agricultura de baixa emissão de carbono, em crescimento no Brasil, já que é uma forma rentável de produzir alimentos e preservar o meio ambiente. 

Alguns benefícios da ILPF são a recuperação de pastagens degradadas, a maior infiltração da água da chuva na terra e o maior conforto dos animais, além de reduzir o desmatamento. 

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tem firmado convênios para ampliar as áreas que utilizam a técnica. 

Nos próximos 50 anos, para atender a demanda alimentar de 10 bilhões de pessoas, a produção agrícola deverá crescer significativamente. Nesse sentido, o Brasil é a principal fronteira agrícola do planeta. 

O De Olho no Campo conversou um dos principais especialistas em sistemas integrados de produção no Brasil. Ronaldo Trecenti, engenheiro agrônomo e consultor na CAMPO Consultoria e Agronegócios, trabalha com ILPF há mais de 10 anos. 


Muitas pessoas têm uma visão errada do setor agropecuário, associam agricultores a desmatamento e outras coisas semelhantes. Para Ronaldo, devem ser feitas ações com muitas informações bem embasadas, de forma sistemática e permanente, para que as ideias erradas sejam quebradas. 

Veja a conversa completa abaixo.

Na sua opinião, qual a importância dos sistemas agroflorestais para unir preservação ambiental com produção agrícola? 
Os sistemas agroflorestais (SAFs), atualmente denominados sistemas de integração lavoura-pecuária-Floresta (iLPF) viabilizam a recuperação de áreas degradadas. Em especial, de pastagens, possibilitando a intensificação da produção. Isto é: o aumento da produção de alimentos, agroenergia e fibras por unidade de área (kg/ha/ano), por meio da diversificação de atividades nas propriedades rurais.

Isso gera trabalho e renda, melhorando a qualidade de vida no campo, reduzindo os riscos climáticos e de mercado, reduzindo a pressão pela abertura de novas áreas para a produção agrícola. Além de contribuir para a redução da emissão de gases de efeito estufa e para o sequestro de carbono, mitigando o aquecimento global e as mudanças climáticas.




O senhor acredita que o governo brasileiro tem apoiado suficientemente os produtores interessados em adotar esses sistemas? 
Infelizmente não. Resultados recentes do Rally da Pecuária 2014 demonstraram que embora o governo brasileiro tenha disponibilizado recursos do BNDES pela linha de crédito do Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC), eles não estão sendo plenamente acessados pelos produtores rurais devido a falta de divulgação do Programa, a alta burocracia e exigências doas agentes financeiros, a falta de assistência técnica capacitada, entre outros gargalos.

Que prognóstico podemos fazer para o futuro da agricultura de baixa emissão de carbono nos próximos anos? 
Ela será adotada gradativamente, à medida que os produtores tenham mais acesso às informações sobre as tecnologias, à assistência técnica, ao crédito, ao seguro agrícola e ao mercado (logística e preço).

Existe alguma localização no planeta com maior disponibilidade de recursos naturais do que o Brasil para o desenvolvimento dos sistemas agroflorestais?

Não, considerando que o Brasil é um país tropical, isto é, com luminosidade, temperatura e umidade favoráveis para a implantação dos sistemas iLPF e que dispõe de imensas áreas de pastagens degradadas com potencial agrícola, em especial, nos biomas Cerrado e Amazônia.

O que deve ser feito para que a população das cidades passe a valorizar a agricultura brasileira?
Deve ser deflagrada uma campanha maciça de comunicação mostrando o que o campo está fazendo em prol da produção sustentável de alimentos, fibras e energia renovável para suprir a população urbana do nosso País e do mundo.

Além da prestação de serviços ambientais, como a “produção de água”, o sequestro de carbono pelo sistema plantio direto e pelo cultivo florestal, por exemplo, a redução de emissão de metano pela pecuária em pastagens recuperadas, a redução da emissão de óxido nitroso, pela não utilização de fertilizantes nitrogenados na produção de soja, em função da fixação biológica de nitrogênio, além do tratamento de dejetos animais, que reduz a emissão de metano e proporciona a geração de energia.

O De Olho no Campo agradece pela atenção de Ronaldo Trecenti 
Fotos: Maria Fernanda Guerreiro