Durante a pandemia, ONU investe R$ 217 milhões no semiárido brasileiro

Projetos do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Rural (FIDA/ONU) têm como foco aumentar o desenvolvimento e a renda da região mais pobre do País

Paulo Beraldo 

Com atuação na região agrícola mais pobre do Brasil e na zona rural de 98 países, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Rural (FIDA/ONU) irá investir cerca de R$ 217 milhões (US$ 43,5 milhões) em ações para mitigar os efeitos da pandemia no País, algo feito no mundo todo. Na prática, a agência atua como um banco de investimento multilateral para reduzir a pobreza no campo. 

Dentro desse valor, um montante é realocado de projetos em andamento e R$ 18 milhões em recursos novos. “Esse fomento vai propiciar maior renda para os agricultores neste momento, além da compra e distribuição de cestas básicas para 10 mil famílias vulneráveis na região do semiárido”, explica Claus Reiner, diretor do FIDA para o Brasil. 

Outras ações são a compra e distribuição de sementes para a próxima safra, que inicia em junho e vai até agosto, e a aquisição de máscaras respiratórias confeccionadas por comunidades locais, principalmente quilombolas. Presentes no Brasil desde os anos 1980, os projetos do FIDA já beneficiaram cerca de 300 mil famílias do semiárido e são realizados sempre em parceria com governos regionais e agentes locais. Já foram investidos US$ 460 milhões em doações e empréstimos a juros baixos para projetos no País. 

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No Piauí, quatro em cada dez municípios têm um projeto do FIDA/ONU para reduzir a pobreza no campo Foto: Manuela Cavadas/FIDA

Outras ações são a compra e distribuição de sementes para a próxima safra, que inicia em junho e vai até agosto, e a aquisição de máscaras respiratórias confeccionadas por comunidades locais, principalmente quilombolas. Presentes no Brasil desde os anos 1980, os projetos do FIDA já beneficiaram cerca de 300 mil famílias do semiárido e são realizados sempre em parceria com governos regionais e agentes locais. Já foram investidos US$ 460 milhões em doações e empréstimos a juros baixos para projetos no País. 

Outras ações são a compra e distribuição de sementes para a próxima safra, que inicia em junho e vai até agosto, e a aquisição de máscaras respiratórias confeccionadas por comunidades locais, principalmente quilombolas. Presentes no Brasil desde os anos 1980, os projetos do FIDA já beneficiaram cerca de 300 mil famílias do semiárido e são realizados sempre em parceria com governos regionais e agentes locais. Já foram investidos US$ 460 milhões em doações e empréstimos a juros baixos para projetos no País. 

Segundo o diretor-geral da instituição, Gilbert Houngbo, outros 70 países pediram para renegociar os objetivos dos projetos devido à pandemia. "Estamos fazendo isso ativamente, mas tendo em mente que o FIDA não é uma agência humanitária", disse Houngbo ao Estadão em uma entrevista com jornalistas organizada pela fundação Thomson Reuters e pelo FIDA. "Mantemos nossa atuação para garantir que os sistemas produtivos continuem funcionando". 

Projetos estimulam desenvolvimento rural 
Hoje, há seis projetos nos nove Estados do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. No Piauí, quatro em cada dez municípios têm projeto do FIDA em áreas que aprimoram a criação de caprinos e ovinos, aves, peixes, capacitam para o uso de irrigação e treinam os moradores também em atividades não-agrícolas, como artesanato.

“Deu um grande resultado. São 89 municípios contemplados com o programa ‘Viva o sem-iárido’”, afirma o governador Wellington Dias (PT), citando o avanço do IDH no Estado - da ordem de 0,4 em 2002 para 0,7 em 2019. Cerca de 16 mil pessoas são atendidas no Piauí.  

O governador diz que muitas famílias que viviam do Bolsa Família melhoraram sua renda e chegaram até a deixar o programa. “Outras foram para a linha do empreendedorismo, montaram um pequeno negócio e passaram a ter uma condição de vida muito melhor”, explica. “Tudo isso produz uma economia que vai para o comércio, para o turismo e para outras atividades”. 

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Participação de mulheres e jovens é estimulada pelos projetos na região Foto: Manuela Cavadas/FIDA
Jovens e mulheres 
No Sergipe, o Projeto Dom Távora atua em 15 cidades - 20% do total. Lá, um terço dos participantes precisa ser de jovens e mulheres para participar das ações de capacitação a pequenos produtores - são cerca de 40 mil pessoas atendidas. O secretário da Agricultura e Pesca de Sergipe, André Bonfim, cita exemplos de assentamentos onde o rebanho de ovinos se multiplicou por cinco em dois anos. 

“A criação de ovinos é uma importante fonte de renda, com sua alta adaptabilidade ao semiárido e baixa exigência de grandes áreas para exploração. E há um mercado consumidor crescente”, diz. Cerca de 40% das comunidades atendidas produzem ovinos no Dom Távora. Outro exemplo é a organização das vendas de produtos dos avicultores, já que agora, em rede e de maneira articulada, é possível obter preços melhores e chegar a mais localidades. 

A comunicação e organização entre os produtores e a assistência técnica tem sido facilitada pelo WhatsApp, já que a maior parte das localidades têm Wi-Fi. “O impacto é muito satisfatório e, de imediato, bastante perceptível na economia de base familiar e municipal”, diz Bonfim. “As vendas a partir de ligação telefônica ou de mensagem pelas redes sociais se intensificaram. A orientação é que, mesmo usando as redes sociais, eles procurem priorizar a articulação coletiva”. 

Acesso à água 
Na Paraíba, o projeto Procase trabalha para reduzir a vulnerabilidade da população rural mais pobre do Estado. Há sistemas que promovem o acesso à água por meio de poços, barragens e dessalinizadores. “São milhares de famílias envolvidas que conseguiram aumentar rapidamente sua renda (em 60%) e sua produção vegetal e animal (em 50%) por meio dessas tecnologias de acesso a água”, explica Leonardo Bichara, oficial de Programas do FIDA para o Brasil. 

O Procase foi escolhido no fim de maio pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) como um caso de sucesso com resultados ambientais, sociais e econômicos. “Está clara a contribuição para promover a agropecuária com a conservação do bioma caatinga para 23 mil famílias e combater a desertificação da região mais árida do Brasil, que fica na Paraíba”. 

Além disso, esses projetos auxiliam comunidades quilombolas e lideradas por mulheres a comercializar produtos sem “atravessadores” e com maior nível de cooperativismo e associativismo. 

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Mais de 300 mil famílias no Nordeste são beneficiadas pelo FIDA/ONU em projetos realizados com parceiros locais  Foto: Agência Brasil/Wilson Dias
Cooperação
Durante a pandemia, o FIDA vai investir US$ 554 milhões (R$ 2,77 bilhões) para apoiar a agricultura familiar em toda a América Latina e no Caribe. Na avaliação de Christian Fischer, diretor do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), é fundamental trocar boas práticas, inovações e fortalecer redes de colaboração no atual momento. 

“Trabalhamos para fortalecer o diálogo entre associações, cooperativas, ONGs, governos. A partir do momento que identificamos uma boa prática, vemos quais dessas características, tanto climáticas como territoriais, existem em outros países e poderiam ser incorporadas para beneficiar a vida dessas comunidades”, explica, destacando também a necessidade de encontrar parceiros privados. O IICA foi fundado em 1942 e tem 34 países-membros.  

O engenheiro agrônomo José Graziano, ex-chefe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), lembra que o FIDA é um dos dez maiores bancos de cooperação internacional do mundo e que sempre teve atuação forte no Nordeste apoiando projetos de desenvolvimento rural.  

Ele enaltece ações como a compra de máscaras de cooperativas locais e acredita que a agência da ONU deve buscar cada vez mais agentes privados para a cooperação. “Recentemente o FIDA se abriu ao setor privado buscando parcerias win-win (ganha-ganha), com empresas públicas e privadas. É um caminho promissor”. 

Acesso à internet é fundamental, diz presidente do FIDA 
Durante a pandemia, milhões de agricultores e agricultoras em todo o planeta deixaram de ter renda por não conseguir vender seus produtos. Com isso, não estão conseguindo plantar a próxima safra por falta de recursos para adquirir sementes e os insumos necessários. 

Possibilitar mais acesso à internet para as populações rurais e vulneráveis será decisivo para garantir a renda e o desenvolvimento econômico dessas pessoas, de acordo com o FIDA. Houngbo afirmou que a agência tem trabalhado para aumentar o acesso às tecnologias digitais no campo e que a comunicação por celular e internet tem sido muito útil. Informou ainda que o FIDA vai lançar uma iniciativa em parceria com empresas de telecomunicação para elevar a informatização do campo. 

"A agricultura digital precisa ser ampliada para garantir aos produtores rurais se comunicar com seus clientes e comercializarem seus produtos", afirmou Gilbert Houngbo. Hoje, cerca de 80% da população mais pobre do planeta moram em áreas rurais. E, mesmo antes da pandemia, 821 milhões de pessoas já tinham dificuldades de obter alimentos diariamente. 

Houngbo alertou que a pandemia ameaça os ganhos em termos de redução da pobreza observados desde os anos 1990. "Para evitar uma disrupção dessas economias rurais, é preciso garantir que a agricultura, as cadeias de alimentos, os mercados e a comercialização continuem a funcionar".  / Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo