Entrevista com o pesquisador Fábio Faleiro, da área de maracujás da Embrapa Cerrados
Fábio Faleiro, pesquisador da Embrapa. Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo |
Paulo Beraldo
BRASÍLIA - O De Olho no Campo entrevista hoje um dos principais especialistas em maracujá no Brasil: o pesquisador Fábio Faleiro, da Embrapa Cerrados, com sede em Brasília-DF.
Fábio recebeu a reportagem no final de seu expediente de uma sexta-feira e apresentou as estufas e plantações de maracujá da unidade que fica em Planaltina, cidade no entorno do Distrito Federal.
Fábio explicou que o Brasil tem 200 das 500 espécies de maracujá existentes no mundo. Cada variedade tem sua aptidão: uso industrial, ornamental, funcional e o consumo in natura.
A Embrapa e suas unidades de pesquisa procuram desenvolver, através do melhoramento genético, cultivares mais produtivas, resistentes a doenças e com melhor qualidade física e química. Tudo para, no final, permitir maior renda a produtores pequenos, médios e grandes.
"O grande desafio dos pesquisadores na área de maracujá no Brasil é desenvolver cultivares e sistemas de produção mais adaptados para cada região do Brasil, de modo que os produtores possam cultivar o maracujá com sustentabilidade econômica, social e ambiental", disse o pesquisador ao De Olho no Campo.
Faleiro defende ainda parcerias multidisciplinares entre empresas públicas e privadas para a obtenção de melhores resultados com as pequisas. "Por meio destas parcerias é possível desenvolver ações de pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia com base em demandas reais do setor produtivo e dos consumidores".
Abaixo os principais trechos da entrevista.
Nós encontramos espécies nativas de maracujás em todos os Estados do Brasil. Por isso podemos dizer que os maracujás (espécies do gênero Passiflora) são essencialmente brasileiros. Existem aproximadamente 500 espécies diferentes de maracujás e cerca de 200 são encontradas no Brasil.
A Embrapa estuda estes maracujás brasileiros que têm várias aptidões: consumo in natura, processamento industrial, ornamental e funcional-medicinal. Os principais focos das pesquisas conduzidas estão relacionados ao melhoramento genético, com o desenvolvimento de cultivares dos diferentes tipos de maracujás mais produtivas, mais resistentes a doenças e com melhor qualidade física e química de frutos.
Também é objetivo das pesquisas o ajuste dos sistemas de produção como o desenvolvimento de práticas agrícolas como adubação, poda, fertirrigação, controle fitossanitário e a agregação de valor à produção, com novos produtos e processos tecnológicos feitos a partir da polpa, casca, sementes, folhas, flores. Sempre tendo em vista a geração de emprego e renda no campo e na cidade.
Diferentes tipos de maracujá na Embrapa em Brasília. Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo |
Uma das características importantes da cultura do maracujá é a sua presença nas propriedades de agricultores familiares. Como as novas variedades têm sido recebidas por esses produtores?
A cultura do maracujá é importante alternativa para agricultores familiares, incluindo aqueles que vivem em assentamentos de reforma agrária. Esses produtores precisam de opções para cultivar sua terra e gerar renda para sustentar sua família e melhorar a qualidade de vida.
Nesse sentido, os maracujás têm sido bem recebidos por esses produtores porque viabilizam economicamente a produção em pequenas propriedades, demandam mão-de-obra para diferentes tratos culturais com diferentes tipos de esforço ao longo do dia e ao longo do ano, já que o serviço pode ser executado por toda família. Além disso, os maracujás possibilitam fonte de renda semanal.
Isso porque a produção ocorre durante vários meses do ano e possibilita agregação de valor à produção, considerando a venda da fruta in natura e de produtos processados, como polpas, sucos, doces e geleias.
Também é possível armazenar a produção, principalmente a polpa, em épocas de baixo preço. Além disso, com o uso de tecnologia no sistema de produção visando à alta produtividade e rentabilidade, a consequência é a melhoria da qualidade de vida no campo. É importante salientar que a tecnologia é importante para o grande, o médio e principalmente o pequeno produtor.
Maracujá Pérola do Cerrado. Foto; Paulo Beraldo/De Olho no Campo |
Como está o processo de desenvolvimento de pesquisas para aproveitamento de subprodutos do maracujá, como a casca?
A Embrapa possui uma rede de pesquisas chamada Rede Passitec que envolve várias unidades da Embrapa, universidades, indústrias, empresas de assistência técnica, cooperativas e produtores que desenvolvem produtos tecnológicos a partir da casca, polpa, sementes, folhas e flores tendo em vista a agregação de valor e aproveitamento múltiplo dos maracujás.
Os resultados obtidos por esta rede de pesquisa têm contribuído para o uso sustentado da biodiversidade dos maracujás e segurança alimentar. Os produtos tecnológicos que estão sendo obtidos são fontes de renda para o produtor rural, novos ingredientes e produtos para a indústria e novas opções para que os consumidores usufruam dos benefícios propiciados por alimentos promotores de saúde.
Flor de maracujá com fins ornamentais. Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo |
Poderia citar algumas cultivares desenvolvidas pela Embrapa recentemente e suas aptidões?
Entre as cultivares de maracujás desenvolvidas pela Embrapa podemos citar as cultivares de maracujazeiro azedo (espécie Passiflora edulis) BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado e BRS Rubi do Cerrado que apresentam alta produtividade, maior nível de resistência a doenças e maior qualidade física e química de frutos.
Podemos citar também a cultivar de maracujazeiro silvestre BRS Pérola do Cerrado (espécie Passiflora setacea), que apresenta alta resistência a doenças e pragas além de poder ser consumida in natura e utilizada no processamento industrial no desenvolvimento de produtos com alta qualidade nutricional e funcional.
Outra cultivar de maracujazeiro silvestre que está fazendo sucesso principalmente no Semiárido Nordestino é a BRS Sertão Forte (espécie Passiflora cincinnata) porque é mais produtiva, extremamente tolerante ao estresse hídrico e permite a produção de uma geleia de alto valor agregado.
Outra variedade desenvolvida pela Embrapa que está conquistando os produtores e consumidores é a BRS Mel do Cerrado (espécie Passiflora alata), que tem uma polpa doce e suave, além de uma flor vermelha muito bonita com alto valor ornamental. A Embrapa também desenvolve cultivares de maracujá para fins ornamentais e funcionais-medicinais.
Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo |
O maracujá também tem fins ornamentais, um mercado especialmente desenvolvido em países da Europa. Como estão as pesquisas nesse segmento?
A cadeia produtiva de plantas para fins ornamentais é um mercado muito promissor para geração de emprego e renda. Nesse sentido, a Embrapa desenvolve pesquisas com o maracujazeiro ornamental, desenvolvendo cultivares com flores multicoloridas (vermelhas, róseas, azuis), ajustando o sistema de produção de mudas em vasos e também para paisagismo de grandes áreas como cercas, muros e pérgolas.
Outra linha de pesquisa da Embrapa é o desenvolvimento de cultivares voltadas para a fruticultura ornamental, ou seja, plantas que servem para ornamentação e produzem frutos comestíveis. Nessa linha, todas as cultivares de maracujás desenvolvidas pela Embrapa podem ser utilizadas para plantios no fundo do quintal, chácaras e sítios.
Brasil tem 200 espécies de maracujá com distintas aptidões. Paulo Beraldo/De Olho no Campo |
Quais os principais desafios enfrentados pelos pesquisadores na área de maracujá no País?
O maracujá é cultivado de Norte a Sul do Brasil. Cada região apresenta características próprias de solo e clima, além de logística e demandas diferentes para a comercialização dos maracujás.
Nesse sentido, o grande desafio dos pesquisadores na área de maracujá é desenvolver cultivares e sistemas de produção mais adaptados para cada região do Brasil, de modo que os produtores possam cultivar o maracujá com sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Para isso, as pesquisas devem ser multidisciplinares e envolver parcerias técnico-científicas entre Embrapa, empresas estaduais de pesquisa, universidades, empresas de assistência técnica, indústrias, centrais de Abastecimento, secretarias de agricultura, indústrias, produtores de sementes e mudas, cooperativas, produtores e consumidores.
Por meio destas parcerias é possível desenvolver ações de pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia com base em demandas reais do setor produtivo e dos consumidores.
Maracujás no viveiro da Embrapa em Brasília. Foto: Paulo Beraldo/De Olho no Campo |