Combater a pobreza rural é uma missão de todos



O papel da juventude na agricultura, os riscos das mudanças climáticas, os desafios da segurança alimentar e o combate à pobreza rural em todo o mundo

ROMA - Esses foram alguns dos assuntos que eu e outros 13 jornalistas discutimos em Roma, na Itália, no início de fevereiro. Nós participamos de uma conferência do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura, o IFAD (do inglês International Fund for Agricultural Development), uma agência da ONU dedicada a erradicar a pobreza e a fome em áreas rurais em 176 países.

Nosso grupo era formado por 14 pessoas, cada um de um país em desenvolvimento. Nós éramos do Brasil, Argentina, Peru, México, Hungria, Indonésia, Vietnã, Uganda, Tanzânia, Togo, Marrocos, Egito, Líbano e Índia, escolhidos entre 300 jornalistas que se inscreveram para o treinamento organizado pela Fundação Thomson Reuters e financiada pelo IFAD.

Lá, aprendemos que 2017 foi um ano de múltiplos conflitos, crises humanitárias, catástrofes climáticas e de aumento da fome, forçando mais e mais pessoas a deixarem seus países. Cerca de 260 milhões de pessoas deixaram seus países no último ano, segundo o relatório mais recente da Organização das Nações Unidas. Se fosse um país, esse número representaria a 5ª maior população do mundo.


Ao longo dos quatro dias nós participamos do Conselho de Governança da agência, entrevistamos especialistas do IFAD e representantes importantes de todo o mundo. Com as discussões das quais participamos e as que tivemos entre a gente, ficou claro que investir em áreas rurais é crucial para a paz mundial, uma vez que a escassez de alimentos pode agravar conflitos e aumentar a migração.

Para evitar isso, o IFAD pretende elevar o acesso a tecnologias eficazes, novas técnicas de produção e maneiras de resistir às mudanças climáticas. “A fragilidade produz fome, pobreza e migração, o que gera conflito e instabilidade”, afirmou Gilbert Houngbo, presidente da agência da ONU, no evento.

Atualmente, 80% das pessoas que vivem em condição de pobreza estão em áreas rurais, somando 500 milhões de pessoas. Um dos principais focos de investimentos do IFAD nos próximos anos será em projetos que melhorem a qualidade de vida de pessoas jovens, que frequentemente abandonam as áreas rurais em busca de melhores oportunidades nas cidades.

Houngbo também disse que o IFAD irá reforçar suas ações para promover o empoderamento de mulheres e aumentar a igualdade de gêneros e oportunidades de emprego na agricultura. “Queremos reforçar nosso papel de catalizador para o desenvolvimento para ter mais recursos disponíveis para a transformação de áreas rurais”.

Segundo Houngbo, a colaboração de todos os países é essencial no combate à pobreza rural. Dessa forma, será possível criar oportunidades para aqueles que vivem no campo e que fornecem alimentos para um planeta em que mais de 800 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar. Esse número aumentou em 2016, após 13 anos em declínio.

O IFAD foi fundado em 1978 e atua no meu país, o Brasil, desde 1980. O fundo já financiou mais de US$ 864 milhões em projetos na região Nordeste, onde vive a maior parte daqueles afetados pela pobreza por aqui. É crucial ajudar pequenos agricultores no Brasil, pois eles têm 84% das propriedades rurais. A região Nordeste, com 9 estados, tem o dobro do tamanho de um país como a França e abriga 53 milhões de pessoas.

Também foi destacado que o Brasil tem bons exemplos de políticas públicas direcionadas a reduzir a pobreza rural. Há um programa determinando que 30% dos alimentos oferecidos em escolas públicas sejam provenientes de pequenos agricultores, promovendo o consumo de alimentos saudáveis e garantindo um mercado para esses trabalhadores.

Ao longo dos quatro dias do evento, tivemos a oportunidade de ver como problemas ultrapassam fronteiras e como podemos fazer o nosso trabalho de uma maneira melhor ao ver novas perspectivas e novos ângulos. Foi uma experiência que realmente abriu nossas mentes, pois eu tenho certeza de que não importa o quão diferentes são as características culturais e históricas de cada país, nós ainda temos muito em comum e podemos aprender uns com os outros.

Também foi discutido que precisamos “contar uma história diferente da agricultura”, a história daqueles que estão se dando bem, para mostrar aos jovens que ainda existem muitas oportunidades para eles nesse mundo, e não focar apenas em realidades ou fatos negativos.