'O Brasil tem um potencial enorme no consumo de azeites', diz diretor do Conselho Oleícola Internacional

Paulo Palma Beraldo
Antes restrita à região do Mar Mediterrâneo, a produção de azeitonas e azeites vem ganhando cada vez mais espaço no mundo todo. Já são 56 os países produtores, de países como Chile, México, Austrália, Afeganistão, Namíbia, Georgia, China e Japão. 

Desde 2008, quando foi produzido em Minas Gerais o primeiro azeite extravirgem nacional, o Brasil também integra a seleta lista.

Jaime Lillo, diretor do Conselho Oleícola Internacional,
fundado na Espanha em 1959.

O diretor do Conselho Oleícola Internacional, Jaime Lillo, considera que o Brasil tem "potencial enorme" para produzir e consumir azeites. A instituição incentiva a produção local porque acredita que os consumidores gostariam de buscar um azeite produzido em suas terras.    
Em entrevista exclusiva ao De Olho no Campo, Lillo comenta as ações do COI para incentivar o consumo ao redor do mundo, traz dados e estatísticas importantes mostrando o crescimento do setor e aborda expectativas para o futuro da produção de azeitonas e azeites. 

A instituição foca, agora, em países com grande potencial de consumo: Brasil, Índia, China e Rússia - antes fez trabalhos de sucesso no Canadá, Japão e Estados Unidos, que tornou-se o principal consumidor mundial.


Entre as safras 2005/06 e 2014/15 as importações de azeite do Brasil mais que dobraram. Situação semelhante foi observada no Japão, mas em países como Austrália, caiu o consumo no mesmo período. Que iniciativas o COI tem para incrementar o consumo em algumas regiões e recuperar o espaço "perdido" em outros? 
É verdade que as importações do Brasil cresceram de forma notável até 2014/15, mas desde então registram uma forte baixa devido à crise econômica que sofre o país e à desvalorização da moeda nacional. Apesar disso, esta temporada está diferente: nos primeiros sete meses, as importações subiram 36%. 

Ferramentas para aumentar o consumo são campanhas de promoção para mostrar as vantagens da inclusão de azeite na dieta. Mostramos que o produto é um alimento com propriedades singulares, considerado por alguns como condimento e por outros, medicamento. 

O COI faz programas promocionais em colaboração com países membros, participa em atividades nos países tradicionalmente produtores, faz estudos de mercado, elabora material de divulgação e participa de eventos científicos internacionais para divulgar as pesquisas sobre as propriedades benéficas do azeite e das azeitonas.



Qual a importância do azeite no cenário mundial de óleos vegetais comestíveis?
Apesar de contribuir com apenas 3% do mercado mundial de óleos vegetais comestíveis, o azeite de oliva é cada vez mais apreciado por seu sabor único e benefícios para saúde. A ciência segue confirmando há várias décadas seus aspectos positivos e os consumidores do mundo todo têm dado cada vez mais importância à qualidade, à saúde e aos aspectos sensoriais dos alimentos, explicando porque tantos países têm se interessado pelo produto.

Como o COI avalia a capacidade e o potencial do Brasil como consumidor de azeite?
O potencial do Brasil no consumo de azeite é enorme. Além disso, os próprios brasileiros sentem interesse em produzir seu próprio azeite. Se a produção nacional seguir adiante, os consumidores locais estarão empolgados para comprar um produto de seu país. 

É questão de sensibilizar o consumidor e fornecer informações sobre o produto para que ele possa entender por que é melhor consumidor azeite de oliva do que outra gordura. Então é preciso continuar o trabalho de difundir informação. 

Também é preciso que o mercado possa "permitir-se" comprar azeite de oliva. É um produto geralmente mais caro que os concorrentes, porque é um suco de fruta e é muito difícil produzi-lo. Infelizmente, quando o preço sobe muito ou uma crise atinge um país, o consumidor vai para óleos mais baratos. 

Em 2008, o Brasil produziu pela primeira vez azeite de oliva extravirgem. Outras nações também começaram a produzir seu próprio azeite. Como o COI avalia o fato de que países "sem tradição" estejam iniciando a produzir? 

O COI avalia positivamente que novos países comecem a produzir porque temos certeza que isso favorece ainda mais o consumo de produtos de azeitonas nesses países. Em termos de produção, o número de países cresce cada vez mais, chegando a 56 nos últimos estudos.

Além da Europa e da costa do Mediterrâneo, já há olivais em muitos países: Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, México, Uruguai, Peru, Angola, Botsuana, Namíbia, Afeganistão, Arábia Saudita, Georgia, Armênia, Índia, China, Japão, Nova Zelândia e Austrália são alguns exemplos importantes. 

Em relação ao consumo, a globalização é ainda mais forte. De produto regional, quase restrito ao Mediterrâneo há algumas décadas, o azeite gradualmente se impôs no mercado da América do Norte antes de tornar-se um produto global. Agora é consumido nos cinco continentes em mais de 170 países. 

Quais os principais desafios para aumentar o consumo de azeite globalmente? 
O interesse do consumidor parece se justificar por três aspectos: o primeiro é transparência no produto que compra, o que envolve a promoção e aplicação de normas, o segundo são os benefícios para a saúde do consumo de azeite e o terceiro são as características sensoriais que permitem distinguir as qualidades. 

Além disso, o cultivo de oliveiras tem um papel importante porque é um freio para o êxodo rural, uma barreira contra a desertificação, uma proteção contra a erosão e tem um efeito para absorver carbono. 

Onde são as regiões em que mais cresce o consumo? 
Na década de 2000, os países membros do COI contribuíam com 12,5% do consumo mundial. Hoje em dia, consomem mais de 25% do azeite comercializado. A diminuição relativa do consumo nos países produtores, especialmente na União Europeia como consequência do recente aumento nos preços do azeite de oliva, e os resultados de estudos de mercado do COI na China, Rússia, EUA, Canádá, Brasil, Japão e Austrália, confirmam essa tendência. Na China, por exemplo, entre as safras 2004/05 e 2014/15, o aumento foi de 792%.