"O Brasil valoriza pouco o marketing no agronegócio", diz consultora

Para Maria Flávia Tavares, o setor precisa estruturar suas ações e  trabalhar com projetos de longo prazo


Paulo Palma Beraldo

O marketing tem ganhado cada vez mais força em diversos setores da economia. No agronegócio não é diferente. Por isso, o De Olho No Campo entrevista hoje uma especialista no assunto, a consultora e palestrante Maria Flávia Tavares, doutora em agronegócio pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Maria Flávia diz que alguns desafios do marketing no Brasil são superar a visão de curto prazo e a busca por resultados imediatos. “Marketing não é só melhorar a embalagem e vender amanhã. São ações de longo prazo, estruturadas. No Japão, por exemplo, o departamento de marketing é ligado à presidência das empresas”, compara.

Ela diz sentir falta de uma atuação unificada do setor agropecuário como um todo - no Brasil e lá fora. “Falta o marketing de cadeia, não o da laranja, o do café, mas um geral, do setor”, avalia. A consultora afirma que, caso haja algum problema em um elo da cadeia, todos os outros terão prejuízos. 

Para ela, o setor precisa também modificar a percepção negativa - por vezes preconceituosa - que alguns têm, causada, em geral, por desinformação. Vários produtores estão conectados, usam diversas tecnologias e obtêm produtividade altíssima. "Falta essa comunicação do agronegócio com as cidades. O setor não deveria aparecer na imprensa apenas para apagar incêndios, tem que ter um programa estruturado de ações".

Segundo ela, nos Estados Unidos há promoção segmentada de alimentos como melão, salmão do Alasca e até para a soja, que tem cerca de 700 usos – entre os quais alguns inusitados como servir de insumo para produzir tintas, para produtos para animais e até lubrificantes. O exemplo serve para o Brasil. "Lá, pesquisadores passaram a desenvolver projetos para agregar valor ao produto. E aqui ficamos apenas exportando commodity”, opina.

Outro desafio é ampliar a quantidade de mulheres no setor. Ela, que viaja o país dando palestras e realizando consultorias, afirma que o número tem aumentado muito nos últimos anos. "Já temos um grande avanço, há muitas mulheres gerindo as propriedades, mas ainda tem preconceito", diz.