Entrevista com Odilson Ribeiro, o novo secretário de Relações Internacionais do Agronegócio

Por Paulo Palma Beraldo
Foto: Divulgação

A Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI), do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), tem um novo titular desde o dia 10 de agosto.

O De Olho no Campo conversou com Odilson Ribeiro, o engenheiro agrônomo que assumiu a pasta no início deste mês. Odilson é funcionário do Mapa há mais de 20 anos e já trabalhou na União Europeia como adido agrícola

Alguns assuntos tratados na conversa foram os desafios do Brasil no comércio exterior, como a maior divulgação de informações e estatísticas reais sobre a agricultura brasileira. Ele dá um exemplo: O Brasil tem 61% do território com vegetação nativa. "Nenhum outro  país no mundo apresenta números semelhantes", diz. 

Países da União Europeia, Estados Unidos, China e Canadá respondem por mais de 50% das exportações brasileiras. Por isso, seguem sendo prioridade, mas a ideia é ampliar o foco para outras regiões, como o Sudeste asiático. 

O foco no curto prazo é a realização de um acordo de livre-comércio com a Uniao Europeia
 
- Há, atualmente, esforço conjunto entre o Mapa e setor privado para apresentar informações reais sobre a sustentabilidade da produção agropecuária nacional e mostrar que nossos produtos agropecuários colaboram com a preservação ambiental - diz Odilson.
 
Na sua visão, quais os principais desafios do Brasil no comércio exterior?
Há vários desafios ao agronegócio brasileiro para elevar a participação de suas exportações no comércio mundial. Podemos citar questões como barreiras técnicas, negociação de acordos de comércio preferencial (ampliação e aprofundamento de acordos existentes, negociação de novos acordos  que facilitem o comércio e reduzam tarifas), além de desafios internos para a agregação de valor de nossas exportações agrícolas, como o processamento de produtos primários para exportação, a imagem do produto nacional dentre outros. 

Outro grande desafio para o Brasil no comércio internacional é resolver os problemas internos de logística que oneram os custos em toda a cadeia exportadora do agronegócio. Sem resolver esses problemas externos e internos o Brasil continuará a perder competitividade. O objetivo do MAPA é passar de 6,9% para 10% do comércio internacional de produtos agrícolas, em até 10 anos.

Como romper estereótipos sobre a produção de alimentos no Brasil, às vezes vista como desmatadora e pouco sustentável?
A solução é divulgar as informações corretas e mostrar os números reais sobre o grande esforço dos agricultores brasileiros na preservação do meio ambiente. O Brasil tem cerca de 61% de seu território preservado com vegetação nativa. Desse total, 11% estão justamente nas propriedades agrícolas. 

Nenhum outro  país no mundo apresenta números semelhantes. Os agricultores chegam a preservar 80% de suas propriedades quando estão na região amazônica. No restante do País, a área de preservação nas propriedades rurais varia entre 20% a 35%.

Com quais países o Brasil buscará estreitar as relações comerciais nos próximos anos?
O Brasil é um país continental, com grande diversidade de clima e solos. Por causa dessa diversidade é possível produzir grande número de produtos agropecuários, e consequentemente, há relação estreita com grande número de países para os quais exportamos produtos do agronegócio. 

O Brasil é fornecedor confiável e faz questão de manter estreita relação com todos os seus parceiros comerciais. Nesse sentido, há  projeto de ampliação do número de adidos agrícolas de 8 para até 25, em diferentes regiões do mundo, especialmente na Ásia,  América do Norte, Europa e Oriente Médio.

Com quais nações o objetivo é manter e ampliar a participação de comércio de produtos do agronegócio?
O maior valor alcançado pelas exportações do agronegócio brasileiro foi em 2013, com cerca de US$ 100 bilhões. Naquele ano, o Brasil também atingiu a maior participação nas importações agrícolas mundiais, 7,6%.

O total das importações agrícolas mundiais, em 2015, foi de mais de US$ 1 trilhão, e, nesse sentido, há bastante espaço para expandir nossas exportações. União Europeia, Estados Unidos, China, Japão e Canadá continuam a ser os principais focos, já que representam cerca de 50% dessas importações. 

Mas também é necessária atuação eficaz no Sul e Sudeste Asiáticos, região de maior crescimento do consumo agrícola mundial, futuro das exportações do agronegócio brasileiro. 

Como sua experiência de adido agrícola na Europa auxilia no trabalho como secretário de Relações Internacionais do Agronegócio?
Os desafios da relação comercial e de cooperação com a União Europeia envolvem diversos temas, desde questões ligadas aos acordos, passando por disciplinas não tarifárias como bem-estar animal e meio ambiente. Atuar como o primeiro Adido Agrícola do Brasil na União Europeia foi um grande aprendizado.

O adido na UE precisa trabalhar com diversos países e diferentes realidades. O trabalho na SRI, embora também diverso, abrange todo o mundo. O perfil multidisciplinar do adido na UE auxilia muito na compreensão do contexto mundial, requerido para atuação na SRI.

Em relação ao Mercosul, quais as principais ações do Brasil a curto e médio prazo?
O Mercosul precisa retomar de forma mais intensa a agenda internacional e elevar o ritmo de negociação de novos acordos comerciais. Nesse sentido, o foco maior no curto prazo é a conclusão das negociações de acordo de livre-comércio com a União Europeia. 

Além deste importante acordo, que envolve um dos principais parceiros tradicionais do agronegócio brasileiro e mundial, ainda há  grandes possibilidades de expansão das trocas comerciais com outros importantes mercados. 

Desse modo, já estão em discussão a ampliação e aprofundamento dos acordos preferenciais existentes com a Índia e com a União Aduaneira da África Austral (SACU) – grupo que reúne África do Sul, Botswana, Lesoto, Namíbia e Suazilândia. 

Além disso, o Mapa atua com bastante atenção nas discussões exploratórias do Mercosul,0 com Canadá, Coréia do Sul, Japão e EFTA (European Free Trade Association) – Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, que deverão definir os próximos passos para formação de novos acordos de livre-comércio, no médio prazo.

Como a Secretaria trabalha em conjunto com a Apex-Brasil para promover os produtos brasileiros no exterior?
A SRI assinou recentemente acordo de cooperação técnica com a APEX-Brasil, que envolve uma série de ações no exterior, sobre os principais mercados-alvo do agronegócio brasileiro. 

Assim, ocorrerão,  em setembro, as primeiras ações dessa parceria, com uma missão empresarial liderada pelo Ministro Blairo Maggi a países asiáticos (China, Vietnã, Malásia, Myanmar, Tailândia, Vietnã, Coréia do Sul), culminando com a reunião  Ministerial dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na Índia.

Em todos esses países ocorrerão encontros de negócios entre empresários brasileiros e locais, discussão de certificação sanitária e fitossanitária de produtos de interesse bilateral, bem como ações de divulgação do agronegócio brasileiro relacionadas com sua qualidade, sustentabilidade e responsabilidade social.

Além disso, estão previstas missões nos mesmos moldes ao Oriente Médio, EUA, Rússia, Japão e União Europeia ao longo de 2017.

O De Olho no Campo agradece a atenção de Odilson Ribeiro e da assessoria do Mapa.