Dólar eleva preços internos de commodities agropecuárias
A escalada do dólar em relação ao
Real tem dado grande suporte aos preços domésticos de produtos agropecuários
tradicionalmente exportados.
De acordo com levantamentos do Cepea (Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, soja, milho, açúcar,
algodão, carne suína e de frango são alguns dos que têm se valorizado no
mercado interno em função do aquecimento das vendas para o exterior.
O trigo também é puxado pelo dólar. Neste
caso, o Brasil importa cerca de metade do que consome, e as compras externas a
valores maiores têm proporcionado reajustes dos preços ao produtor brasileiro
mesmo neste período em que está começando a colheita de uma safra que pode ser recorde.
Mas, o câmbio eleva também os custos de
produção. Insumos importados têm disparado. Nos últimos dias, conforme o Cepea,
importadores (distribuidores) de fertilizantes chegam a relatar que estão sem
parâmetros de preços para o mercado nacional, tamanha a variação do câmbio.
Com base nos levantamentos mensais de insumos,
a equipe Cepea informa que, em agosto, o gasto médio com fertilizantes e
defensivos (impactados pelo dólar) da soja, por exemplo, em Mato Grosso, esteve
entre 27% (Sorriso e Campos Novos do Parecis) e 41% (Primavera do Leste) superior
ao de agosto do ano passado.
No Paraná, o encarecimento médio de adubos e
defensivos foi de 22% em Londrina, de 32% em Cascavel e de 41% em Castro. O
impacto da desvalorização mais recente do Real deve começar a ser sentido nas
compras, principalmente de defensivos, que ainda precisam ser feitas para a
temporada de verão.
Nos grandes grupos do agronegócio,
especialmente do segmento industrial, a situação é mais crítica para empresas
que captaram dinheiro no exterior e não se protegeram contra as oscilações
cambiais. Não são raros no setor os casos de forte abalo financeiro justamente
por conta da exposição ao risco da moeda.
Confira o impacto recente do câmbio sobre
alguns produtos exportados:
SOJA – Na parcial do ano foram exportadas 48,3 milhões de toneladas de soja, 5,8%
a mais que em todo o ano de 2014, de acordo com dados da Secex. Em termos reais,
os preços do grão são os maiores desde dezembro de 2013.
Só neste mês (até o dia 24), o preço médio
da soja no Paraná (Indicador CEPEA/ESALQ) aumentou 9%, com a saca de 60 kg a R$
79,57 nessa quinta-feira. Os derivados acompanham as altas do grão. O farelo de
soja sobe 11% e o óleo de soja, 8,4% ao longo deste mês.
MILHO – Mesmo com
colheita recorde no Brasil, os preços acumulam elevação expressiva desde
agosto. Segundo pesquisadores do Cepea, vendedores anteciparam o fechamento de contratos a termo
principalmente para exportação, tanto da safra atual quanto da seguinte,
motivados pela forte valorização do dólar.
Os contratos, em Reais, estão em
níveis superiores ao mercado físico atual. Referente à região de Campinas (SP),
o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu 15,8% em setembro, a R$ 32,62/saca
de 60 kg no dia 24.
TRIGO – A dependência de
importação ainda é grande e, atualmente, ocorre a custos elevados. Além disso,
chuvas intensas e geadas no Rio Grande do Sul podem prejudicar a produtividade
e qualidade do cereal que está no campo, o que também tende a elevar as
cotações internas do trigo de boa qualidade.
Na média de setembro, os valores
pagos ao produtor do Paraná estão 12,5% superiores aos de setembro/14 e, no Rio
Grande do Sul, 10% maiores. No mercado de lotes, na mesma comparação, a alta
chega a 29% no Rio Grande do Sul, a 23% em São Paulo e a 28,8% no Paraná – as
valorizações do dólar motivam reações mais rápidas no mercado de lotes, comparativamente
ao de balcão.
AÇÚCAR – A vantagem para a exportação foi de 11,84% na
última semana, conforme cálculos do Cepea. De 14 a 18 de setembro, as vendas
externas equivaleriam a R$ 57,21/saca de 50 kg, enquanto o Indicador de Açúcar
Cristal CEPEA/ESALQ (mercado paulista) teve média de R$ 51,15/sc. Nessa
quinta-feira, o Indicador CEPEA/ESALQ fechou a R$ 52,91/sc, aumento de expressivos 12,3% na parcial de setembro mesmo com
a colheita em bom ritmo na região Centro-Sul.
ALGODÃO – A colheita brasileira do algodão está terminando.
Apesar da retração da demanda, os
preços da pluma seguem firmes no mercado interno, em linha com a paridade de
exportação. Atentos ao fraco ritmo da atividade industrial brasileira, compradores
adquirem novos lotes apenas quando têm necessidade de entrega rápida – seja
para uso na linha de produção (indústria) seja para o cumprimento de contratos
de matéria-prima (comerciantes). Em setembro, o Indicador CEPEA/ESALQ com
pagamento 8 dias, referente à pluma 41-4, posta em São Paulo, sobe 4%, fechando
a R$ 2,3456/lp no dia 24.
CARNES
– A
reação da demanda interna por carne suína aliada às exportações crescentes tem
elevado os preços do vivo e da carne. A média diária de exportação de carne suína in natura nas três primeiras semanas do mês foi de 2,6 mil
toneladas, 28,6% maior que a de agosto e 58% superior à de setembro/14.
Caso o
ritmo atual se mantenha, serão embarcadas aproximadamente 54,2 mil toneladas da
carne em setembro, o segundo maior volume registrado em 2015. No mercado
atacadista da Grande São Paulo, as carcaças especial e comum se valorizam 28% e
29,5% no acumulado de setembro,
negociadas no dia 24 a R$ 7,07/kg e a R$ 6,81/kg, respectivamente.
No mercado de frango, o movimento de alta dos preços se intensificou em meados de setembro e a
elevação no mês já está próxima dos 20% tanto para o frango inteiro congelado
quanto resfriado no atacado da Grande São Paulo.
Nesta quinta, o frango inteiro
congelado teve média de R$ 4,15/kg e o resfriado de R$ 4,25/kg. Além do bom
desempenho das exportações, a demanda interna pela carne de frango vem sendo
favorecida pelos elevados valores da bovina e pelas recentes valorizações da
suína.
A carne bovina, apesar de também ter se
tornado mais competitiva no mercado internacional, não tem apresentado aumentos
de volume exportado. Segundo pesquisadores do Cepea, isso ocorre porque a carne
bovina brasileira é tradicionalmente adquirida por países emergentes que também
estão tendo desvalorizações de suas moedas. Nesses casos, a opção seria por
carnes mais baratas, como de frango e suína.
Fonte: Cepea/USP