Rondônia tem fazenda modelo de pecuária sustentável na Amazônia

A Fazenda Don Aro, em Machadinho d'Oeste (RO), está conseguindo reverter sérios problemas  com as pastagens degradadas, que afetavam não só o solo, como também a produtividade e a renda da fazenda. 

As mudanças estão ocorrendo depois que o proprietário, o pecuarista Giocondo Vale, apostou em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) para renovar a pastagem, recuperar o solo e, consequentemente, melhorar a produtividade. 

Com a pastagem renovada, o gado passou a consumir menor quantidade de suplemento mineral e os ganhos também ocorreram no desmame, que pode ser realizado já aos nove meses de idade. 

O pecuarista conta que também obteve grande melhoria no peso ao desmame, que saltou de 7,29 arrobas para 8,5 (machos) e de 6,51 para 7,7 (fêmeas), um aumento de 17,5%, permitindo ganhos por volta de 140 a 170 reais a mais por cabeça.

Atualmente o pecuarista conta com 674 animais na propriedade e estão sendo produzidos animais cruzados entre as raças Aberdeen Angus (britânica) e Nelore, permitindo maior precocidade no abate e carne mais macia. 

A zootecnista da Embrapa Rondônia, Elisa Osmari, explica que a melhora da nutrição dos animais, por meio da recuperação de pastagens via integração lavoura-pecuária, é responsável por grande parte dos excelentes resultados conquistados.

"Há também a atuação positiva do componente florestal, pois as árvores existentes na propriedade Don Aro permitem um sombreamento adequado e maior conforto térmico para o rebanho resultante do cruzamento europeu, que possui pelagem mais escura e maior susceptibilidade ao calor", afirma.

O pecuarista iniciou a adoção da ILP em sua propriedade destinando 96 hectares para o consórcio de arroz com o capim Brachiaria ruziziensis e não parou por aí. A produção de arroz na propriedade na safra 2012/2013 foi de 9.700 sacas em 185 hectares. Na safra 2013/2014, usando 385 ha, obteve 20.050 sacas. 

E, na safra deste ano, Vale ampliou a produção para 400 hectares plantados. "Hoje minha propriedade está com cerca de 67% da área com plantio de grãos ou pastagens temporárias e para dezembro de 2017 estará com 100% da área produtiva utilizada mecanizada, corrigida e integrada. Estamos trabalhando para isso", conta o proprietário, que tem a pecuária de corte como uma de suas principais atividades.

A integração lavoura-pecuária adotada na propriedade é a temporal, ou seja, uma área é utilizada por alguns anos com lavoura e depois é implantada pastagem que, por utilizar a adubação residual, acaba tendo o custo da sua formação diluída. Após a colheita da lavoura na safra principal, também são plantadas na safrinha (segunda safra) forrageiras como o sorgo, por exemplo, para alimentar o gado. 

O objetivo é ter pastagem de qualidade na entressafra e, ao mesmo tempo, garantir a produção de grãos inteiros para suplementação animal, para ser utilizada na terminação das fêmeas. Para isso, o produtor está plantando milho para utilizar na alimentação dos animais. Quanto ao componente florestal, o plantio é em blocos, que estão inseridos nas áreas com grãos ou pecuária.

A fazenda Don Aro é modelo em sustentabilidade na região. É importante ressaltar que Machadinho d'Oeste estava entre os 43 municípios da Amazônia que mais desmatavam na região e fez parte das ações do programa Arco Verde Terra Legal, do governo federal, que realizou ações para reduzir o desmatamento, em uma parceria com Embrapa e outras instituições.

Na contramão do desmatamento, Vale trabalha há 25 anos com a pecuária em quase 1.600 hectares de terras, sem a utilização de fogo e com práticas sustentáveis. "Historicamente optamos pelo ‘fogo zero' na Don Aro. Isto é, não utilizamos fogo nas pastagens e florestas", comenta. A propriedade conta com 42% de sua área total coberta por vegetação nativa, reposições florestais em blocos e Áreas de Preservação Permanente (APPs) com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) já efetuado no órgão responsável.

A Fazenda Don Aro é a primeira propriedade de Rondônia a receber o atestado de adequação pelo Programa de Boas Práticas Agropecuárias - Bovinos de Corte (BPA), coordenado pela Embrapa. 

É ainda a segunda do Norte a receber a classificação ouro, por atender a 100% dos itens obrigatórios e 80% dos altamente recomendáveis pelo Programa, e a décima no Brasil nessa categoria. 

A adoção da ILPF não é obrigatória no BPA, mas é um item altamente recomendável dentro do programa. Sabendo disso, Giocondo Vale adotou o sistema e não se arrepende. "Num primeiro momento a produção em sistema integrado e a busca pela sustentabilidade em um empreendimento rural eram desconhecidas por grande parte da nossa região. Hoje percebemos as vantagens de uma produção integrada e sustentável", conclui o pecuarista.

Com o apoio e incentivo da Embrapa, por meio do BPA, o pecuarista conseguiu organizar e estruturar melhor as ações na propriedade, indo além das recomendações. A Fazenda Don Aro é a primeira no estado na aplicação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), bem como do Plano ‘Lixo Zero'. 

Além da tríplice lavagem de agrotóxicos, é realizada a coleta seletiva com o devido destino de cada grupo, de acordo com a legislação. Giocondo está investindo também na recuperação das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), com duas mil mudas de espécies nativas, e ainda com o plantio de onze mil pés de castanheiras-do-brasil, o maior plantio individual realizado por pessoa física no Brasil. 

"Somos prova de que é possível ter uma empresa agrícola e atuar de forma sustentável, sendo ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo", argumenta o produtor.

O caso da Fazenda Don Aro está servindo de modelo para Rondônia. As vantagens da ILPF em âmbito nacional são comprovadas por análises de viabilidade técnica, econômica, social e, principalmente, ambiental. 

Sua aplicação nos diferentes biomas e possibilidades de combinações entre agricultura, pecuária e floresta, sejam elas integrações agropastoris (lavoura e pecuária), silviagrícolas (floresta e lavoura), silvipastoris (pecuária e floresta), ou agrossilvipastoris (lavoura, pecuária e floresta), oferecem tanto ao produtor quanto ao sistema grande versatilidade e possibilitam que componentes culturais, econômicos e ambientais sejam considerados para a perfeita adequação à realidade da região.