Satélites e drones ajudam a monitorar sistemas de ILPF
Técnicas inovadoras baseadas em satélites, drones e lasers aerotransportados são as mais recentes ferramentas utilizadas pela ciência para monitorar a implantação de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
Cientistas exploram o potencial dessas tecnologias a fim de gerar informações estratégicas para o planejamento, manejo e identificação de novas áreas para a implantação de ILPF, em diferentes escalas.
As aplicações vão desde o monitoramento das condições e do desempenho dos cultivos até estimativas de biomassa (quantidade de vegetação) e carbono estocado pelos sistemas.
Os métodos utilizados são semelhantes àqueles empregados para mapear e monitorar as pastagens, culturas agrícolas e florestas de forma isolada. O desafio, no caso da ILPF, é que essas atividades estão concentradas numa mesma área, tornando a análise dos dados mais complexa. De acordo com o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite (SP) Édson Bolfe, especialista na área de geoprocessamento e sensoriamento remoto, as geotecnologias têm evoluído rapidamente. Novos satélites estão permitindo a identificação em detalhe de componentes minerais de solo e de características da vegetação até então inviáveis de serem observados por métodos tradicionais.
"A tendência é que novos sensores ofereçam um maior número de bandas espectrais e possibilitem a extração de informações importantes para a agricultura, com custos cada vez menores", explica. Ele ressalta ainda a possibilidade de obtenção de imagens por sensores aerotransportados, especialmente os drones ou veículos aéreos não tripulados (Vants).
O monitoramento de sistemas de ILPF é uma das linhas prioritárias de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Embrapa, vinculada ao portfólio de projetos de monitoramento da dinâmica de uso e cobertura da terra.
Carbono estocado
Pesquisas conduzidas pela Embrapa estão aplicando geotecnologias para quantificar a biomassa e o carbono de sistemas de ILPF. O estabelecimento de metodologias de cálculo de carbono será importante para contabilizar e monitorar a redução das emissões de gases de efeito estufa alcançada pelo País a partir da adoção do sistema ILPF.
A iniciativa é uma das ações previstas pelo projeto GeoSaltus, componente da rede de pesquisa Saltus, da Embrapa, que estuda a dinâmica da emissão de gases de efeito estufa e dos estoques de carbono em florestas naturais e plantadas.
O ILPF representa uma alternativa para a agricultura sustentável. Além de contribuir para a recuperação de áreas degradadas e a conservação do solo, tem grande potencial para a fixação do carbono e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, ao manter pastos cobertos de vegetação de boa qualidade, plantio de florestas comerciais entre outras práticas sustentáveis.
Um dos compromissos previstos no Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é o incentivo à adoção de sistemas de ILPF. A meta, até 2020, é de implantar quatro milhões de hectares destes sistemas e atingir um potencial de mitigação em torno de 20 milhões de toneladas de CO2 equivalente (Mg CO2 eq).
Estudos sobre estoque de carbono, realizados em sistemas agroflorestais da região de Tomé-Açu (PA), chegaram a resultados obtidos por meio de sensoriamento remoto muito próximos aos medidos in loco. Foram considerados sistemas de integração lavoura-floresta de diferentes idades e tipos de vegetação e cultura, e gerados mapas de biomassa e de carbono para cada um dos sistemas conduzidos pelos agricultores. De acordo com Édson Bolfe, os resultados obtidos permitem gerar metodologias eficazes para o mapeamento de sistemas ILPF e a estimativa do carbono fixado na biomassa e, dessa forma, extrapolar medições locais para análises regionais.
Além de imagens de satélite, estão sendo utilizados dados LiDAR (Light Detection and Ranging) para medir o estoque de carbono. Trata-se de um sistema laser embarcado em aviões convencionais que permite avaliar detalhadamente a área de estudo, fornecendo informações da superfície do terreno e também da estrutura da vegetação, e analisar a quantidade de biomassa.
O conhecimento sobre esta tecnologia na Embrapa tem avançado a partir da cooperação técnica estabelecida com o Serviço Florestal Americano para o programa de pesquisa Paisagens Sustentáveis, da Embrapa, que tem compartilhado técnicas e dados LiDAR com foco na contribuição para inventários de emissões de gases de efeito estufa.
Milhões de hectares para expansão da ILPF
A conversão de pastagens degradadas para ILPF é uma das estratégias apontadas pelo Programa ABC para a recuperação dessas áreas e a promoção da sustentabilidade na agricultura. As iniciativas, no entanto, encontram dificuldades de implantação, entre outros motivos, devido à falta de informações atualizadas e detalhadas sobre a localização dessas áreas – dados fundamentais para a implantação de políticas públicas para o setor.
As imagens de satélite também estão contribuindo para o mapeamento de áreas potenciais para a implantação de sistemas de ILPF, como as de pastagens degradadas. Estudo desenvolvido pela Embrapa Monitoramento por Satélite no âmbito do projeto de pesquisa GeoDegrade mostrou que, num cenário considerado realista, mais da metade das pastagens localizadas no Cerrado brasileiro podem estar em algum estágio de degradação. São 32 milhões de hectares em que a qualidade do pasto está abaixo do esperado.
O mapeamento da Embrapa utilizou imagens do satélite Spot Vegetation e aplicou um coeficiente denominado Slope para identificar a ocorrência de pastagens com algum processo de degradação.
O coeficiente foi utilizado como um ponto de corte ou referência para a definição de três cenários: muito otimista, otimista e realista. O mapeamento pode auxiliar, por exemplo, no direcionamento de recursos e na orientação de iniciativas de recuperação em regiões prioritárias. "Diante das dimensões do território brasileiro e das diferenças regionais, o desafio é chegar a números cada vez mais precisos. O uso de geotecnologias é uma estratégia fundamental para traçar um mapa das condições das pastagens", ressalta Bolfe.
Os mapas das pastagens degradadas do Cerrado podem ser acessados na internet por meio do SOMABRASIL.
Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo