Holambra recebe maior exposição de horticultura da América Latina
Com 460 expositores, 22ª Hortitec apresentou as principais tecnologias
para o setor de horticultura e flores entre os dias 17 e 19 de junho
Texto e fotos: Paulo Palma Beraldo, de Holambra-SP
Começava em 1948 a saga dos holandeses em uma
cidade que iria se tornar conhecida em todo o país: Holambra. O nome vem da junção
das palavras Holanda e Brasil. O governo brasileiro fez um acordo com o país
europeu após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) oferecendo incentivos para a
vinda de estrangeiros.
Com os imigrantes vieram a cultura, os hábitos e
as tradições enraizadas em séculos de história que ainda hoje se fazem presentes. Com
11 mil habitantes, Holambra é responsável por produzir quatro em cada dez flores
comercializadas no Brasil. A cidade, a 96 km de São Paulo, recebe todos os anos
a Expoflora, a maior feira de flores da América Latina, com
mais de 280 mil visitantes.
Em meados de junho, Holambra também atrai
visitantes e empresas do Brasil e do exterior para participar da Exposição Técnica Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas
Intensivas, a Hortitec.
Voltada para produtores flores e hortaliças, a
Hortitec apresenta insumos, sementes, fertilizantes, mudas, ferramentas para o
campo como embalagens, estufas, telas, aparelhos de climatização, biotecnologia
e outros produtos. Na sua 22ª edição, durante três dias, a feira recebeu 28 mil
visitantes e gerou cerca de R$ 80 milhões em de negócios.
O diretor geral da Hortitec, Renato Opitz, disse
em comunicado que a feira tem o papel de multiplicar conhecimento sobre a
tecnologia existente para a horticultura, contribuindo de forma decisiva para
tornar a atividade “cada vez mais produtiva, rentável e ecologicamente viável”.
Segundo o Instituto
de Economia Agrícola (IEA), o estado de São Paulo é o maior
produtor de hortaliças no Brasil.
Um dos temas da Hortitec em 2015 era a
racionalização dos recursos naturais, em especial a água. O cultivo
hidropônico, no qual o solo é substituído por uma solução contendo nutrientes,
pode reduzir em até 90% o uso de água em comparação com o sistema convencional
foi uma das tecnologias de destaque na feira.
A técnica também reduz o uso de agroquímicos. No
Brasil, a área de cultivo hidropônico é estimada em 50 a 70 mil hectares. As
principais culturas com cultivo hidropônico são o alface, rúcula, agrião e
almeirão, além de salsa e coentro.
Desperdícios
Levando em conta que aproximadamente um terço dos alimentos produzidos no
planeta é desperdiçado (dados da Organização das Nações Unidas), a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) produziu
caixas específicas para a comercialização de hortaliças, com o objetivo de
reduzir as perdas.
Foram lançadas na 22ª Hortitec quatro caixas específicas
para hortaliças e frutas, que favorecem o manuseio e evitam danos que possam
prejudicar os produtos. As caixas têm capacidade para carregar 20kg. A
tecnologia veio da Embrapa Hortaliças, com sede no Distrito Federal.
Legumes
e vegetais diferenciados chamaram atenção de quem passou pela Hortitec. A
empresa Sementes Sakama trabalha com produtos importados e tem uma estação
experimental em Ibiúna-SP, onde são feitos testes para analisar a adaptação
climática, produtividade, resistência e sabor das variedades, antes de serem
lançados comercialmente, explica George Kajiwara, engenheiro agrônomo da
empresa. As sementes vêm de países como Estados Unidos, Itália e França.
Em
2015, a empresa apresentou variedades de berinjela-branca, berinjela-verde e
cenoura redonda, conta ele. “São variedades mais macias e não se oxidam
facilmente, então duram um pouco mais. Pelo fato de ser de uma coloração
diferente, faz com que os consumidores e chefes de cozinha possam elaborar cada
vez mais pratos diferentes e fazer um colorido especial”, explica.
A empresa também se preocupa com os hábitos
alimentares das crianças, já que as cores podem incentivá-las a consumir um produto
diferente. Segundo o agrônomo, muitas vezes as pessoas pensam que só existe um tipo de
produto, como se alface fosse só verde ou cenoura só laranja. “Então,
procuramos trazer frutos de coloração e formatos diferentes
para serem vistos tanto como enfeites e como alimentação”, diz Kajiwara.
A empresa também se preocupa com os hábitos alimentares
das crianças, já que as cores podem incentivá-las a consumir um produto
diferente.
As
sementes diferenciadas são um pouco mais caras, mas há um motivo para isso:
“Nosso objetivo não é virar um produto comum, mas sim levar alternativas para
produtores que, plantando pouco, possam obter um preço melhor. Não focamos
apenas na quantidade, mas na qualidade do produto”, afirma.
A Cooperativa
Agropecuária de Insumos Holambra estava com um estande onde atendia produtores e
interessados no ramo das flores. O diretor da cooperativa, Geraldo Masselani,
conta que a empresa tem 336 associados, incluindo os principais produtores de
flores de Holambra e região, salientando as vantagens dessa forma de trabalho.
Em
Holambra, a cultura do cooperativismo é bastante forte, comenta Masselani. A
cooperativa de insumos tem mais de 1.300 itens, desde fertilizantes até telas
para climatização e plástico para cobertura de estufas, além de materiais
importados. Existe na cidade outra cooperativa, essa destinada à venda de
flores, chamada Veiling.
“Compramos em grande escala. Automaticamente,
temos uma condição de preço melhor do que cada produtor ir e buscar isso no
mercado sozinho”, explica. No cultivo de flores, existem produtos muito
elaborados, específicos e alguns caros, porém com resultados satisfatórios.
Masselani dá o exemplo da flor de maio para explicar o raciocínio.
“Se você
tiver um vaso de flor de maio na sua casa, ela só vai florescer em maio. Ela
passa por todas as etapas climáticas até o ponto do florescimento. Mas aqui em
Holambra um produtor tem flor de maio todos os dias. A estufa tem uma sequência
climática para que o produtor consiga ter, no momento em que precisar, a flor
florescendo”, explica.
Geraldo Masselani |
O diretor da cooperativa
diz que na produção de flores é possível “alongar” ou “encurtar” o dia,
acendendo lâmpadas dentro da estufa ou fechando sistemas com telas e plásticos
que escurecem o local.
“O
principal regulador de crescimento de uma flor é a luz. Então, os produtores
fazem com que as plantas passem por esses estágios e floresçam no momento em
que precisam. Há áreas de resfriamento para simular as estações e induzir o
florescimento”, conta, destacando a necessidade das estufas serem bastante
equipadas, com aquecimento, sombreamento e outras tecnologias.
A
produção de flores varia conforme a época do ano, explica o diretor da
cooperativa. “No dia dos namorados e dia das mães, vende-se muita rosa vermelha
e muita orquídea. No dia de finados, vende-se muito crisântemo. Para cada
época, tem um nicho de flor que atende mais. E os produtores fazem picos para essas
datas”, exemplifica.
A
cooperativa está atenta ao que ocorre no exterior e em bons exemplos nacionais.
“Temos que nos espelhar no que está sendo feito lá fora. Buscamos muitas
tecnologias da Holanda, da Colômbia, no segmento de rosas, por exemplo. Temos uma
parceria muito forte com empresas de Israel para coberturas e climatização de
estufa. Lá, com aquele clima, eles conseguem produzir”, afirma, reforçando a
importância de eventos como a Hortitec para reunir tecnologias e inovações do
setor.