Produtores gaúchos economizariam R$ 5,71 de frete por saco de soja com logística eficiente

Produtores do Estado receberiam R$ 5,71 a mais por saco de soja se as condições logísticas do Rio Grande do Sul unissem transporte eficiente, interligado e baseado em hidrovias, afirma estudo da Assessoria Econômica do Sistema Farsul, divulgado na semana passada. 

Considerando que o Estado deve exportar 129,4 milhões de sacos de soja nessa safra, a perda dos agricultores por conta do frete foi de R$ 738,6 milhões somente em 2014/2015.

Hoje é gasto US$ 61,58 por tonelada para levar a carga do noroeste do Estado até o porto de Rio Grande e enviá-la até o porto de Xangai, na China, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Se as hidrovias fossem o principal meio de escoamento - como é nos Estados Unidos, com participação de 60% -, o valor cairia para R$ 23,53, uma redução de 62%. Seria o equivalente a aumentar a produtividade em quatro sacos por hectare de soja, com os mesmos custos de produção.

Para chegar ao número, a equipe do Sistema Farsul comparou as condições logísticas brasileiras com as dos Estados Unidos. Enquanto os brasileiros utilizam rodovias para transporte de 53% da produção de soja para exportação, os americanos optam por esse modal para apenas 5%. Por lá, quase dois terços da carga chega ao porto por hidrovias (60%), que conta ainda com um sistema integrado de ferrovias, por onde passam 35% da soja. 

“Queremos chamar a atenção para esse modelo que privilegia hidrovias”, afirma o economista do Sistema Farsul, Antonio da Luz, citando que apenas 11% da produção é escoada através delas no país.

Estima-se que o transporte hidroviário seja 44% e 84% mais barato do que o ferroviário e o rodoviário, respectivamente. No fim das contas, o escoamento é mais rápido por conta da maior capacidade de barcaças em comparação com caminhões - além de contribuir para o trânsito nas estradas brasileiras, reduzindo engarrafamentos, acidentes e emissão de poluentes, defende o estudo.

O potencial hidroviário brasileiro é, inclusive, superior ao dos Estados Unidos, segundo dados do Banco Mundial. 

Seria possível utilizar 50 mil quilômetros de hidrovias no Brasil - número menor apenas do que China, Rússia e União Europeia - mas se aproveita 28%, ou seja, 14 mil quilômetros. Os Estados Unidos têm capacidade para 41 mil quilômetros, nove a menos, mas todos são usados regularmente, conforme a Agência Central de Inteligência (CIA).

Ao comparar os gastos por tonelada para cada quilômetro percorrido, os problemas de logística ficam evidentes. De acordo com o USDA, quando a soja parte de Minneapolis - cidade ao norte dos Estados Unidos localizada às margens do Rio Mississipi - em direção a Xangai, percorrendo 2,7 mil quilômetros, o gasto por tonelada para cada quilômetro percorrido é de R$ 0,11. Partindo do noroeste do Rio Grande do Sul, percorrendo 461 quilômetros, o custo é de R$ 0,31. Quase o triplo.

Essa defasagem leva em conta ainda a pressão sobre o sistema logístico que os Estados Unidos criou a partir das 20 milhões de toneladas produzidas a mais em 2014, que favoreceram aumento do custo do transporte de 25% no último ano. Ou seja, em condições normais, o custo americano é ainda menor.

Analisando as perdas dos produtores de todo o Brasil, o preço da ineficiência chega a R$ 9,6 bilhões. “Além dessas perdas serem bastante significativas para a economia brasileira, elas têm crescido a uma taxa média de 6% ao ano”, aponta da Luz. Se as perdas continuarem crescendo a essa taxa, como ocorre nos últimos oito anos, o valor acumulado chegará a R$ 1,009 trilhão em 35 anos. 

“Isso quer dizer que, no mesmo prazo que o Brasil ganhará R$ 1 trilhão com o pré-sal, pelas estimativas da presidente, ele perderá valor equivalente com ineficiência logística”, compara.

O Brasil está na 65ª posição no Logistics Index Performance 2014, ranking do Banco Mundial que avalia, a cada dois anos, a qualidade logística de 160 países. Em 2012, o país ocupava a 45ª colocação. Os Estados Unidos, por sua vez, aparecem em 9º. Quem lidera é a Alemanha, seguida por Holanda e Bélgica.

Setor se mobiliza por melhorias no Superporto de Rio Grande
A Farsul apresentou, em fevereiro, ações para melhorar a navegabilidade das hidrovias do Estado e otimizar a logística do Superporto de Rio Grande. O trabalho, desenvolvido durante nove meses pela Federação ao lado de Fiergs, Fecomércio e operadores e usuários do porto, busca ampliar o calado do local e implantar um sistema moderno de gerenciamento de tráfego marítimo, entre outras medidas.

Em relação às hidrovias, o grupo sugere dragagem e melhoria nas instalações e sinalizações ao longo das principais vias que ligam portos como o de Estrela ao Superporto de Rio Grande, atendendo não só as demandas do Estado, como também os países vizinhos Uruguai e Argentina. O investimento do governo federal, com recursos já provisionados, é de R$ 180 milhões.

Brasil está atrás dos EUA até em rodovias
Apesar de o Brasil concentrar energias no transporte rodoviário, ele também está atrás dos americanos nesse quesito, como mostra o estudo da Assessoria Econômica do Sistema Farsul. Enquanto os EUA tem à disposição 6,6 milhões de quilômetros em rodovias, o Brasil apresenta 1,6 milhões, de acordo com o Banco Mundial. 

A diferença em área territorial não explica o fato: EUA e Brasil têm, respectivamente, 9,4 milhões e 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Além disso, a qualidade das estradas também decepciona. Segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes de 2014, quase 79% das rodovias não são pavimentadas no país. Além disso, 62% dos 98,4 mil quilômetros das principais estradas são consideradas regulares, ruins ou péssimas pelos brasileiros.

Conforme dados do estudo, o cenário é pior entre as rodovias de responsabilidade do poder público, ou seja, 81% do trecho analisado - para essas, apenas 30% são apontadas como boas ou ótimas. Em relação aos 19% concedidos à iniciativa privada, o número sobe para 74%.

Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo