“A greve dos caminhoneiros é apenas o começo”, aponta análise de Economista do Pecege

Ao menos 11 estados brasileiros tiveram estradas bloqueadas por caminheiros no mês de fevereiro. Aos poucos, depois de muita negociação e ofertas partindo do governo, o tráfego nas rodovias se normalizou. 

Tratou-se de uma manifestação motivada pelos aumentos no valor do diesel, dos pedágios, dos tributos sobre o transporte e pelas péssimas condições das rodovias brasileiras.

Em análise, Haroldo José Torres da Silva, Economista e Pesquisador do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), aponta o cenário que culminou a greve dos caminhoneiros, suas consequências e as incipiências a serem solucionadas para o agrave da situação.

“O setor de transportes enfrenta uma elevação dos seus custos, enquanto que, por outro lado, vivencia um cenário desfavorável para reajustes nos preços do frete”, comenta Torres. 

De acordo com os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do litro do diesel ofertado ao consumidor no Brasil está cotado em R$ 2,79. “O valor representa uma alta de 6,78% em relação a janeiro desse ano. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o preço médio está 11,9% maior”, aponta.

Por outro lado, segundo informações do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), o transporte de soja de Sorriso - MT, município com maior produção da cultura no país, até Paranaguá - PR, em fevereiro de 2014, foi de R$ 280,00 por tonelada. “Neste ano, entretanto, o valor recuou para R$ 255,00”, pondera o pesquisador.

O economista afirma que, as reivindicações das greves dos caminhoneiros foram legítimas, mas o impacto na economia foi notável. “Os prejuízos causados à economia brasileira atingiram, em especial, o agronegócio. 

O fluxo de matérias-primas das áreas rurais para as indústrias foi interrompido, lesando os produtores rurais e às indústrias localizadas nas regiões com bloqueios, além dos diversos transtornos causados ao escoamento da produção agropecuária”.

Ainda segundo Torres, o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de commodities agrícolas e se utiliza, predominantemente, do sistema rodoviário para escoar a sua produção. “Os episódios vivenciados nas últimas semanas evidenciam a dependência e a fragilidade da nossa economia ao modal rodoviário na matriz de transportes”, enfatiza.

Perda de competitividade 
Haroldo José Torres da Silva aponta que “a queda na margem econômica do setor de transporte é resultado de uma equação que congrega a elevação dos combustíveis, preço do frete e queda nos preços das commodities”. Segundo o pesquisador, neste contexto é preciso desenvolver uma logística otimizada, alinhada à redução de custos.

“É necessário dar destaque ao chamado ‘Custo Brasil’ - custos fora da unidade produtiva que são impostos às empresas instaladas no país, afetando a sua competitividade”, ressalta.

De acordo com último Boletim Focus do Banco Central, o mercado prevê uma queda de 0,58% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Além disso, a mediana das expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 7,33% para 7,47% em 2015. 

“Somam-se ao atual cenário de ameaça de recessão econômica e de alta inflação, problemas como o baixo investimento, os escândalos de corrupção envolvendo gestores do governo e as crises de energia e abastecimento”, explica.

Segundo Torres, a previsão de melhoras para a economia brasileira em 2015 é pessimista. “São necessárias medidas para que o Brasil retome o caminho do crescimento sustentado, a começar pela simplificação de impostos, redução da burocracia, maior abertura ao comércio exterior e aumento da produtividade” aponta. 

Para o pesquisador, “a greve dos caminhoneiros apontou apenas algumas das fragilidades da economia brasileira que emergirão neste ano”, encerra o economista.

Fonte: Lucas Jacinto/Pecege
Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo