Coluna: Bacon da Peppa Pig?


Vocês conhecem a Peppa Pig? Acho que sim. Personagem de um dos desenhos animados de maior sucesso nos últimos anos, a pequena porquinha – e seus amiguinhos – são um fenômeno entre a criançada. 

A febre com a animação é tamanha que foi maciçamente abocanhada pela publicidade. Hoje, se vende de tudo, com a estampa da Peppa. A curiosidade jornalística falou mais alto, e dia desses lá fui eu assistir alguns episódios da Peppa. 

Com arte gráfica, digamos questionável [parece que o desenhista estava com preguiça – embora aposte que o mau acabamento possa ter sido intencional], o que se destaca no desenho é, obviamente, seu conteúdo, ancorado em princípios éticos. 

Diferentemente de tantas outras produções que escancaram “o levar vantagem”, a abordagem da Peppa Pig prega bons valores, tem uma pegada “educativa” sem soar chata, o que, obviamente, é muito bom. 

E o que a Peppa, isso tudo, tem a ver com o agronegócio? Sabemos que o setor trabalha há muito tempo para melhorar sua comunicação com a sociedade urbana, com as cidades, com o consumidor final, que a cada dia fica mais distante das “fazendas”. 

Diversas iniciativas foram feitas, como, por exemplo, o Sou Agro – ativo até hoje -, resultados positivos neste diálogo foram obtidos, como mostraram recentes pesquisas, mas novos desafios 
sempre surgem. 

Hoje, um dos atributos que ganha musculatura entre as exigências no universo do consumo é o do “bem-estar animal”. No final do ano passado, durante o Congresso Brasileiro de Marketing Rural & Agronegócio, realizado pela ABMR&A, Daniel Boer, diretor de proteínas do McDonald’s para a América Latina, disse que o bem-estar animal virou padrão no segmento de carne bovina, sendo cada vez mais valorizado pelo consumidor. 

Na ocasião, o executivo citou pesquisa que mostra que o consumidor está com a tendência de querer tratar animais de consumo como cuida de seus pets! E aí surge um dilema para o segmento, especialmente o de carnes. 

Como lidar com este cenário, tanto em termos de processos e produtos quanto de comunicação? Bem-estar animal avança como requisito exigido pelo mercado, só que custa ... caro. 

Esta é uma equação que certamente, daqui em diante, precisará ser melhor trabalhada, amadurecida, a fim de conciliar interesses de produção e consumo, inclusive na divisão de custos e em definições claras do que é pertinente ou não quando se fala em bem-estar animal. 

E a Peppa? De tão graciosa que é, emana nas crianças sentimentos de mais respeito, cuidado e carinho, com os bichos. De fato, personagens assim não são lá grande novidade – lembram-se do ‘Babe, o porquinho atrapalhado’? -, só que no contexto atual, a coisa mudou de figura.

Um bacon feito de um “big porco anônimo” é uma coisa. Mas, será que daqui dez, 15 anos, quando as crianças fãs da Peppa se tornarem consumidores adultos, os porcos – e outros animais destinados ao consumo humano - não serão cada vez mais vistos como se fossem a Peppa, provocando uma mudança de comportamento, e sugerindo uma quebra de modelo?

Enfim, nem ouso arriscar resposta – e que acredito que ela nem exista neste momento -, mas a reflexão está posta.