Projeto analisa desempenho socioambiental da produção de eucalipto

Pesquisadores de várias instituições vem avaliando o desempenho socioambiental de propriedades produtoras de eucalipto para geração de lenha e carvão em 3 polos produtivos – Itapeva, em São Paulo - selecionada pela forte demanda de lenha para o setor de mineração e secagem de grãos; Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, com elevado consumo de lenha pelo setor fumageiro e a região central de Minas Gerais, que concentra grandes siderúrgicas consumidoras de carvão. 

O modelo de avaliação adotado foi o Sistema de Avaliação de Impactos de Inovações Tecnológicas Agropecuárias (Ambitec-Agro), que consiste de um conjunto de 125 indicadores, organizados em 24 critérios descritores do desempenho socioambiental do estabelecimento rural.

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) Cláudio Buschinelli explica que "cultivos de eucalipto com finalidades energéticas (lenha e carvão) tem sido estimulados pelo aumento na demanda por alternativas de fontes de energia no país. 

Tal atividade pode diminuir a pressão por madeira de florestas nativas para geração de energia". Ele é o  responsável pelas avaliações socioambientais no subprojeto  "Avaliação socioambiental e econômica da cadeia produtiva de florestas energéticas e sua inserção na economia brasileira", que faz parte do Projeto Florestas Energéticas da Embrapa.

Sete aspectos essenciais de análise compõem o Ambitec-Agro: Uso de insumos e recursos e Qualidade ambiental que compõem os critérios de Avaliação Ambiental; Respeito ao consumidor, Emprego, Renda, Saúde e Gestão/Administração, que compõem os critérios de Avaliação Socioeconômica.

Para as avaliações de campo, estão sendo selecionadas propriedades rurais de referência no cultivo de eucalipto em cada polo de produção, de maneira a formar um diagnóstico dos impactos socioambientais decorrentes desta atividade nos âmbitos da propriedade e de seu entorno, com o objetivo de identificar os pontos fortes e as debilidades do setor para subsidiar a elaboração de políticas públicas. 

Os resultados obtidos na região de Itapeva, evidenciaram importantes contribuições da inclusão do cultivo de eucalipto para o desempenho socioambiental da propriedade, com destaque para a grande maioria de resultados positivos entre os critérios analisados, indicando o rumo certo em direção ao desempenho socioambiental sustentável.

Impactos negativos foram identificados no aspecto Qualidade ambiental, devido a intensificação produtiva em uma área destinada originalmente à pecuária de corte, o que provocou o aumento do uso de insumos e recursos e uma piora na qualidade da água e do solo com a introdução do cultivo de eucalipto. Entretanto, estes indicadores negativos são relativos, pois ao longo do ciclo produtivo deste cultivo (cerca de 6 a 8 anos) os impactos negativos são distribuídos ao longo do tempo, havendo a possibilidade de serem minimizados.

Quanto aos aspectos socioeconômicos, foram observados ganhos importantes para todo o sistema produtivo com a inclusão do cultivo de eucalipto. O âmbito econômico foi o que mais se destacou, alavancado pelos critérios relativos à Comercialização e à Renda. 

A Condição de comercialização e a Geração de Renda foram as mais influenciadas, com aumento significativo atribuído à venda garantida da madeira ou lenha na região; outros critérios a destacar são a Dedicação e perfil do proprietário e Valor da propriedade, refletindo a profissionalização e empreendedorismo com influencia direta no patrimônio familiar. Todos estes critérios também refletem impactos positivos na Capacitação e Geração de emprego com melhor qualificação e Diversidade de fontes de renda.

No âmbito social, menos destacado em relação ao econômico, deve ser mencionado o fato de a propriedade ser uma empresa familiar, cujo relacionamento com outras instituições foi ampliado após a inserção do cultivo de eucalipto, o que refletiu positivamente na assistência técnica recebida e nas atividades de associativismo. 

O critério mais favorecido foi o de Segurança Alimentar (dentro do aspecto Saúde), que é caracterizado como de grande impacto na análise, favorecido pelo aumento na garantia da produção após a introdução do eucalipto. Tudo isto favorecido pelo esforço de aprendizado do produtor, aumento do relacionamento institucional e retorno econômico satisfatório. 

Por outro lado, a introdução de uma nova atividade na propriedade trouxe como consequência, impactos negativos no critério Segurança e saúde ocupacional, representados pela maior exposição a agentes químicos e aos fatores inerentes ao trabalho com maquinaria pesada (tratores, caminhões, motosserras, dentre outros).

"Isso nos permite concluir que o desempenho socioambiental favorável, verificado para a produção de eucalipto, na fazenda analisada, contribui positivamente para o desenvolvimento local sustentável, em uma região na qual a diversificação produtiva se faz tão importante.

O pesquisador ressalta que ao final de cada avaliação é entregue um relatório técnico para o proprietário, para que ele tenha um documento orientador e com sugestões para redução dos impactos negativos identificados. É importante esse conhecimento dos pontos fracos e fortes para que ele possa analisar os problemas ambientais e buscar alternativas para a correção.

Cristina Tordin/Embrapa Meio Ambiente
Foto: Cláudio Buschinelli