Manejo do eucalipto auxilia a regeneração de florestas nativas

Contrariando o título atribuído ao eucalipto de "desertos verdes", plantios comerciais dessa árvore podem contribuir com a conservação da biodiversidade e exercer importante papel de indutor da recomposição de florestas nativas. 

Estudos mostram que no interior dos eucaliptais é possível encontrar uma diversidade considerável de espécies de árvores. Se manejadas corretamente, essas áreas podem se transformar em novos fragmentos florestais, destinados, por exemplo, à formação de Reserva Legal ou de Áreas de Preservação Permanente.

A necessidade de atender a demandas legais e de sustentabilidade tem levado principalmente as empresas do setor florestal a investir em medidas para recomposição da vegetação nativa em áreas selecionadas da propriedade, anteriormente ocupadas por talhões de eucalipto. 

"As empresas estão sempre interessadas em pesquisas que orientem sobre um manejo mais adequado, que favoreça a regeneração da vegetação em áreas de interesse", afirma o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite Carlos Cesar Ronquim.

Ele coordenou um estudo em uma propriedade da empresa de papel e celulose International Paper do Brasil, em Brotas (SP), onde foi analisado, ao longo de quatro anos, o potencial dos sub-bosques, formados pela vegetação de pequeno porte abaixo da copa dos plantios de eucalipto, na recomposição florestal nativa. A pesquisa foi realizada em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A área foi antes ocupada por pastagens e nos últimos 42 anos vinha sendo cultivada com eucalipto. A pesquisa verificou a presença de espécies nativas no interior do plantio e, após o corte, testou a influência de diferentes tipos de manejo. Concluiu-se que a recomposição de vegetação nativa por meio da regeneração natural, sem utilização de insumos químicos, traz resultados satisfatórios. 

"Depois do corte do eucalipto, muitas espécies arbóreas ou arbustivas se desenvolveram naturalmente, sem manejo, contribuindo para a minimização de custos e favorecendo a sustentabilidade ambiental, sem o lançamento de substâncias poluentes no ambiente", explica o pesquisador da Embrapa.

As informações geradas estão sendo úteis para a escolha da forma de manejo da flora nativa. "Os resultados preliminares nos animaram, indicando que nossas ações para a conservação da natureza vêm dando ‘bons frutos'", elogiou Robson Laprovitera, gerente de Saúde, Segurança, Trabalho e Meio Ambiente da área florestal da International Paper. 

A propriedade foi monitorada em visitas e por meio da utilização de imagens de satélite e sistemas de informações geográficas (SIG), que possibilitaram a espacialização das áreas modificadas e forneceram subsídios para o planejamento ambiental. Nova parceria foi estabelecida com a Embrapa para dar continuidade às pesquisas.

Manejo adequado
Campanhas de campo foram realizadas para catalogar as espécies arbustivo-arbóreas e de aves que habitavam o ecossistema - antes, durante e após o corte da floresta de eucalipto. Foram recolhidas amostras do solo para identificar as espécies germinadas a partir das sementes encontradas. 

"As espécies mais características foram identificadas no próprio local e as demais foram coletadas, herborizadas e levadas ao laboratório da universidade, onde foram identificadas a partir da literatura ou por comparação com exemplares depositados no herbário", explica a pesquisadora da UFSCar, Maristela Imatomi.

Antes do corte do eucalipto a equipe observou que já havia árvores nativas jovens desenvolvendo-se no interior do plantio. Após a supressão, foram separadas diferentes parcelas do terreno, que passaram a receber tratamentos distintos: algumas parcelas receberam aplicação de adubo químico; outras de herbicida; outras receberam tanto a aplicação de herbicida quanto de adubo; e em outros casos, nada foi aplicado. Os resultados mostraram que, independentemente do tipo de manejo, a biodiversidade de espécies e a quantidade de indivíduos foram semelhantes.

O estudo mostrou ainda que a maioria das espécies que germinaram era de arbustos e árvores que surgiram e cresceram em condições de sombra dos eucaliptais e apresentavam características de dispersão por animais, como aves e morcegos ou animais silvestres. 

Por meio do levantamento da fauna, a equipe de pesquisa envolvida no projeto identificou 61 espécies presentes nas plantações de eucalipto e nos remanescentes florestais do entorno.

Outro fator observado foi a idade de corte dos talhões de eucalipto. A ausência de competição com gramíneas e boas condições de fertilidade, umidade do solo e microclima favorecem a diversidade de espécies nativas arbóreas que se desenvolvem sob a copa do plantio de eucalipto. 

"O atraso na colheita, ultrapassando o prazo de sete anos, pode possibilitar a presença ainda maior de plantas e espécies diferentes, aumentando as chances de sucesso na formação da vegetação quando a área for aberta", completa o pesquisador da Embrapa Carlos Ronquim.

Ele destaca ainda os benefícios do uso do cultivo de eucalipto para o agricultor. "Ele pode ser uma boa opção para ajudar na recuperação da cobertura florestal em áreas da propriedade degradadas pela pecuária e agricultura intensivas, oferecendo ainda ao agricultor uma rentabilidade econômica com a venda do eucalipto".

A eucaliptocultura no Brasil

A eucaliptocultura vem crescendo nos últimos anos no Brasil, tornando-se importante alternativa para a área rural. Dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf) apontam que, em 2012, os eucaliptais constituíam 5,102 milhões de hectares do território brasileiro. A árvore é exótica e a forte expansão do seu cultivo em solo brasileiro ainda levanta questionamentos quanto à sustentabilidade de sua produção.

Ao lado de outras espécies florestais comerciais, o setor mantém expressiva atuação na balança comercial do País, movimentado principalmente pelas demandas de papel e celulose, madeira e geração de energia. 

Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a receita bruta gerada por esse segmento foi de R$ 60 milhões em 2013, o que representa 6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Graziella Galinari/Alan dos Santos/Embrapa Monitoramento por Satélite
Foto: Fábio Torresan