O avanço da cana-de-açúcar em terras paulistas

No século passado, o Estado de São Paulo assistiu a um processo de remodelamento na ocupação de suas terras agrícolas. 

A partir do começo do século 20 a região centro-sul passou a ser o polo dinamizador do desenvolvimento brasileiro e, em pouco tempo tornou-se o mais importante mercado consumidor interno de açúcar e também como processador da cana colhida - lembra o economista Bruno Pissinato, autor de um estudo que observou a evolução histórica da área e da produtividade da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo entre 1950 e 2010.

Segundo Pissinato, as mesorregiões do Estado, que até 1950 foram consideradas de ocupação nova ou com áreas cafeeiras, entendendo-se as concentradas ao centro e oeste do Estado, ofereceram incentivos ao cultivo da cana-de-açúcar primeiramente com aptidões edafoclimáticas e, onde havia presença do café, proporcionaram aparato logístico e financeiro. 

Segue nessa linha a Segunda Guerra Mundial, e a crise do petróleo na década de 1970, que provocaram mudanças institucionais, como o Proálcool, o Planalsucar e o PRO-OESTE, alicerçando um ambiente institucional de incentivos que impactou na distribuição da cultura canavieira no Estado - reforça Pissinato.

A pesquisa, desenvolvida no mestrado do Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), teve orientação de Carlos Eduardo de Freitas Vian, docente do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da ESALQ. 

- A lacuna de dados existentes, particularmente entre os anos de 1920 e 1970, ainda em bases impressas, o papel da experimentação, o aparato governamental personificado no Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), e a conduta do empresariado sucroalcooleiro fomentando a ocupação de áreas e seus respectivos papéis motivaram meu estudo.

Em um primeiro momento, o trabalho evidencia a questão da extensividade, apontando a produção de cana-de-açúcar como dependente em maior grau do acúmulo de novas terras, expulsando as produções de café e, em segundo plano, as culturas alimentares, pastagens e promovendo desmatamento. 

- A cana-de-açúcar mostrou-se uma cultura substituidora durante o período analisado, no entanto foi a partir de meados da década de 1970 que passou a ser o cultivar com maior responsabilidade nesse quesito - comenta o autor da pesquisa, que hoje atua como professor na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).

O quesito produtividade é frisado como fator que alavanca a cultura no Estado de São Paulo nas regiões de maior incremento de produção advindo de aspectos institucionais, tais como a colaboração de muitas usinas com a pesquisa agronômica a partir dos anos 1940, e a atuação dessa última na produção, síntese e introdução de novas variedades. 

- No entanto, o rendimento tornou-se mais influente em regiões de ocupação mais antiga tais como São José do Rio Preto, Campinas, Ribeirão Preto, e passou a fomentar a ocupação em regiões com aptidão média e baixa (em sua maioria) à cultura canavieira, no oeste do Estado (Araçatuba, Presidente Prudente, Bauru, Marília).  

De acordo com a pesquisa, esse comportamento intensificou-se a partir dos anos 1970, sendo as mesorregiões mais tradicionais influenciadas pelo Proálcool e as demais citadas pelo PRO-OESTE. 

- De 1980 em diante, salvo algumas exceções em algumas décadas, todas as mesorregiões passaram a se caracterizar como extensivas a atividade canavieira, expulsando boa parte das culturas anteriormente estabelecidas, sendo barradas apenas pelas pastagens e poucos produtos da agropecuária que também se configuram como monoculturas.

Ao analisar as contribuições por área e rendimento no período 1950-2010, o estudo apresenta um quadro de relativo equilíbrio entre os responsáveis pelo crescimento canavieiro. 

Este último aspecto sugere que ao desprezarem-se as variações nas décadas, o papel da experimentação teve papel equivalente ao da incorporação de novas áreas. 

Assim, além de proporcionar ganhos de produtividade nas regiões mais antigas do Estado, pressupõe-se que a experimentação permitiu a melhor adaptação em mesorregiões que foram se destacando ao longo do tempo e sua consequente consolidação. Portanto, o crescimento do setor ocorre a partir da expansão de terras, além dos fatores edafoclimáticos e da própria composição do ambiente institucional.

Finalmente, Pissinato lembra da importância de estudos como este pois a ocupação das terras paulistas pela cana-de-açúcar afetou as culturas alimentares.

É necessária a correta definição das produtividades em questão, tanto da cana-de-açúcar e dos outros cultivares para manutenção de níveis seguros de abastecimento e de preços, e ótimo conciliador que se evidencie no tempo, a partir dos rendimentos agrícolas, meio ambiente e sociedade”.

Fonte: Caio Albuquerque/Assessoria de Comunicação ESALQ
Foto: Paulo Palma Beraldo/De Olho no Campo