Genoma completo do café é sequenciado pela primeira vez no mundo

O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Andrade, participou de um consórcio internacional composto por 11 países – Brasil, França, Itália, Canadá, Alemanha, China, Espanha, Indonésia, Austrália, Índia e Estados Unidos – que sequenciou pela primeira vez no mundo o genoma completo do café (Coffea canephora). 

A iniciativa inédita já está publicada  na versão online da revista norte-americana Science desde às 15 horas (14 horas no horário de Nova York, Estados Unidos) de hoje. 

Esta revista científica, publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, sigla em inglês), é considerada, ao lado da Nature, uma das mais prestigiadas de sua categoria, com tiragem semanal é de 130 mil exemplares, além das consultas online, o que eleva o número estimado de leitores a um milhão em todo o mundo.

Em 2004, Alan já havia feito parte de um grupo pioneiro no Brasil, que sequenciou pela primeira vez o genoma funcional do café, o que na época resultou no maior banco de dados para café do mundo, com 200 mil sequências de DNA. Hoje, esse banco já possui mais de 30 mil genes identificados e está à disposição das 45 instituições que compõem o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), distribuídas em 14 estados brasileiros.

A diferença entre o sequenciamento completo do genoma (estrutural) para aquele obtido há 10 anos (funcional) é que o estrutural permite aos cientistas ter conhecimento sobre a ordem dos genes dentro das sequências de DNA e das regiões intergênicas que compõem o genoma, o que não é possível ver no sequenciamento funcional. 

Isso é muito importante, especialmente do ponto de vista do melhoramento genético, como explica Alan, já que permite desenvolver diversas características de interesse na mesma planta (produtividade, precocidade, tolerância a estresses climáticos e resistência a doenças, por exemplo).

Na verdade, segundo Alan, esse é o ponto alto da conquista científica obtida pelo grupo internacional no que se refere à aplicação em prol do agronegócio brasileiro. "Que é o que interessa à Embrapa", reforça o pesquisador. 

O sequenciamento completo do genoma do café resulta na geração de um genoma de referência que permite a genotipagem em escala genômica. Em português mais claro, é como se o sequenciamento permitisse a "radiografia" do genoma de cada planta, o que permite prever o desenvolvimento de algumas características de interesse agronômico e acelerar o melhoramento genético.

O feito científico está sendo divulgado agora, mas diversas plantas já genotipadas em escala genômica estão sendo testadas em campo há mais de três anos na Embrapa Cerrados (outra unidade de pesquisa da Embrapa em Planaltina, DF) com ótimos resultados. Já foram analisadas mais de mil plantas que estão sendo avaliadas quanto à produção e outras características agronômicas.

Coffea canephora e sua importância no mercado brasileiro
O Coffea canephora é uma espécie muito importante para o Brasil e ocupa cerca de 30% do mercado mundial. A variedade Conilon é a mais utilizada para a produção de blends, combinada com o Coffea arabica, o mais consumido no Brasil e no mundo. 

Blends são composições de grãos diferentes. Assim como os vinhos, os grãos de café podem ser misturados para obter o máximo de variedade e qualidade na xícara.

Os estados do Espírito Santo e de Rondônia são os maiores produtores brasileiros de Coffea canephora. A indústria de café torrado e moído consome cerca de oito milhões de sacas da variedade Conilon e a indústria de solúvel aproximadamente quatro milhões.

O próximo passo, de acordo com o pesquisador, é iniciar o sequenciamento do café arábica, do qual o Brasil é o maior produtor e responde por 36% do mercado mundial.

Experiência adquirida em 2004 foi fundamental para o sequenciamento completo do genoma
Alan faz questão de ressaltar que a experiência adquirida em 2004, com o sequenciamento do genoma funcional foi determinante para o desenvolvimento do genoma estrutural conseguido exatos 10 anos depois.

Do ponto de vista científico, a conquista obtida pelo consórcio internacional é muito importante para a compreensão da genética evolutiva do café, pois comprovou a partir de uma comparação entre os genomas do café, chá e cacau, que o surgimento da biossíntese de cafeína ocorreu independente e não oriunda de um ancestral comum, como se acreditava até então.

Por enquanto, o banco de dados resultante do sequenciamento estrutural do café está na França, mas a ideia é trazê-lo para o Brasil, a exemplo do que foi gerado pelo genoma funcional, que desde 2004, está à disposição das instituições de pesquisa do Brasil e do exterior.

A publicação está disponível desde as 15 horas de hoje (hora de Brasília) na edição online da revista Science e pode ser lida no endereço: www.sciencemag.org/

Fonte: Fernanda Diniz/Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 
Foto: Claudio Bezerra