Confiança é a chave para o setor privado participar da melhoria da infraestrutura, diz presidente da Abag
O equacionamento dos gargalos existentes na logística para escoamento da safra de grãos passa por: redução da burocracia, de forma a ter regras claras que aumentem a confiança dos investidores; planejamento de longo prazo; facilitação das licenças ambientais para execução das obras e forte investimento nos portos, considerado o maior dos gargalos.
Foram essas as recomendações relacionadas por um grupo de especialistas e lideranças do setor de logística e do agronegócio, reunidos pelo 3º Fórum Caminhos da Safra, realizado pela revista Globo Rural, da Editora Globo, e que conta com o apoio da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Na avaliação do presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, um ingrediente fundamental para a ampliação das obras necessárias para a solução dos problemas de logística e de transportes no país é confiança.
“Os projetos que começam a acontecer, sobretudo no chamado Arco Norte, para melhorar a logística não se efetivarão sem a participação do setor privado em condições de aportar capital para participar da construção da infraestrutura necessária. E isso não acontecerá se não houver confiança dos empresários nas regras gerais que norteiam esses investimentos”, afirmou Carvalho.
Para o presidente da Abag, o excesso de regulação também complica a atividade do agronegócio e é mais um elemento de elevação dos custos. “Leis feitas sem a menor relação com a realidade do campo significam descoordenação e acabam por aumentar os curtos”, apontou Carvalho.
Outro palestrante do evento, o consultor Luiz Antonio Fayet, deu as dimensões do aumento de custos logísticos mencionados pelo presidente da Abag. “Na comparação entre 2003 e 2013, enquanto os custos logísticos na Argentina cresciam de US$ 14 por tonelada posta no porto, para US$ 20, no Brasil a conta passou de US$ 28, em 2003, para US$ 92, em 2013, um aumento de 228,5%”, informou Fayet.
De acordo com Fayet, que é integrante da Câmara de Logística do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a redução desse custo passa, necessariamente pela conclusão das obras do chamado “Arco Norte”, uma série de projetos envolvendo ferrovias, hidrovias, terminais portuários e áreas de transbordos que estão em andamento no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.
“Quando todas as obras estiverem concluídas, cerca de 60 milhões de toneladas de grãos deverão ser escoadas por portos do Norte e do Nordeste, desafogando Santos e Paranaguá, destinos atuais de boa parte da safra colhida no Centro-Oeste”, avaliou Fayet.
Outro palestrante do evento promovido pela revista Globo Rural, Aurélio Pavinato, presidente da SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos do país, acrescentou que a conclusão das obras do Arco Norte podem representar uma redução de até 40% nos custos logísticos do agronegócio brasileiro. “Isso, aliado a grande eficiência do produtor brasileiro dentro da fazenda deve confirmar o cerrado brasileiro como uma das regiões de maior produtividade do mundo”, garantiu.
Já Cláudio Adamuccio, presidente do Grupo G10, uma das maiores transportadoras brasileiras, chamou a atenção para um aspecto pouco observado na discussão da falta de infraestrutura logística.
“Temos hoje, um apagão de mão de obra que resulta na falta de 150 mil motoristas. Em função de vários fatores, a profissão de motoristas que tinha, há 30 anos, uma percepção romântica de quem tinha a possibilidade de conhecer todo o país, hoje não atrai mais profissionais”, comentou.
Adamuccio acrescentou ainda que isso resulta em aumento nos custos dos transportadores, uma vez que a legislação determina folgas e férias que complicam ainda mais o quadro.
Outro problema, segundo ele, é que a precariedade das estradas e o congestionamento causado pelos gargalos em portos e terminais de carga e descarga reduziram a produtividade do setor. “Antigamente, um caminhão rodava 12 ou 15 mil quilômetros por mês e hoje esse número não passa de 8 ou 9 mil quilômetros”, informou o executivo.
O 3º Fórum Caminhos da Safra, realizado pela revista Globo Rural, é o fechamento de uma jornada promovida pela publicação que este ano resultou num total de 7 mil quilômetros percorridos por repórteres e fotógrafos em dez Estados para relatar as condições de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos utilizados para a movimentação da safra brasileira.
Na edição deste ano, foram cumpridos seis roteiros: Rondonópolis (MT até o Porto de Santos; Cascavel até Paranaguá; Luis Eduardo Magalhães (BA) até o Porto de Cotegipe, na Bahia; Palmas (TO) até o Porto de Itaqui (MA); Sorriso (MT) até Santarém (PA) e Rio Verde (GO) até o Porto de Tubarão, em Vitória (ES).
Fonte: Abag
Foto: Abag/Divulgação