Entrevista com Francisco Heiden, técnico da Epagri, sobre a produção de leite em Santa Catarina
Paulo Palma Beraldo
O assunto de hoje é leite. O De Olho no Campo entrevistou Francisco Carlos Heiden, engenheiro agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Francisco Heiden falou sobre as perspectivas para a produção e leite em Santa Catarina e a importância desta atividade no estado.
- Para o médio e longo prazo, mesmo com possibilidades de alguns momentos de dificuldades, existem boas possibilidades de Santa Catarina conquistar mais espaço nos mercado nacional e internacional de lácteos, significando que o estado pode seguir ampliando sensivelmente a sua produção de leite - explica.
Francisco ressalta que a viabilidade econômica da cadeia produtiva do leite catarinense deve estar necessariamente acompanhada de prudência ambiental e da manutenção da sua importância social.
- Para as organizações que contemplam na sua missão o desafio do desenvolvimento sustentável, o desafio é bem mais complexo, o que exige ações públicas e privadas diferentes das verificadas em diversas cadeias produtivas, que cresceram significativamente, mas com grande exclusão social e impactos ambientais negativos.
De Olho no Campo: Santa Catarina é o quinto produtor nacional de leite e tem crescido nos últimos anos mais que a média nacional. O senhor pode contextualizar um pouco a produção no estado e dizer o que possibilita esse crescimento?
Francisco Heiden: A produção leiteira, em Santa Catarina, cresceu bem mais que a produção dos principais estados produtores, no período de 2000 a 2008, desacelerando nos últimos anos, mas a taxa média de crescimento continua maior que a taxa média nacional.
Pode-se dizer que a produção de leite é uma atividade consolidada no meio rural catarinense com uma perspectiva de produção para 2014 estimada em 2,9 bilhões de litros, dos quais cerca de 2,2 bilhões são destinados à indústria. Pelo número de famílias envolvidas e pelo volume de produção considera-se que é a atividade de maior importância social e econômica para a região oeste de Santa Catarina.
Pode-se dizer que a produção de leite é uma atividade consolidada no meio rural catarinense com uma perspectiva de produção para 2014 estimada em 2,9 bilhões de litros, dos quais cerca de 2,2 bilhões são destinados à indústria. Pelo número de famílias envolvidas e pelo volume de produção considera-se que é a atividade de maior importância social e econômica para a região oeste de Santa Catarina.
O processo de consolidação da cadeia produtiva do leite tem especificidades, o que é decorrente de uma combinação de fatores como: clima, solo, forrageiras adaptadas, animais de qualidade, disponibilidade de tecnologia e assistência técnica, produtores com conhecimento empírico e boa capacidade para se aperfeiçoar e um parque industrial competitivo.
Qual é o papel desempenhado pela EPAGRI na profissionalização e no aumento da produtividade do estado? Desde quando ela começou a trabalhar com isso?Existem outras iniciativas como a dela ao redor do país?
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em sintonia com os interesses das famílias rurais produtoras de leite e em parceria com uma série de organizações públicas e privadas atua no setor leiteiro desde o inicio dos anos noventa, intensificando suas ações a partir de 2004, quando nove das dez regiões administrativas priorizaram a atividade leiteira nos planos de trabalho.
Um exemplo expressivo destas ações é a importante expansão da difusão do sistema de produção de leite à base de pasto, que, entre outros aspectos, preconiza a utilização da pastagem como fonte básica de alimentação dos animais, o cultivo e manejo das forragens mais adaptadas a cada condição regional, o piqueteamento da área de pastagem e o pastoreio racional rotativo.
Um exemplo expressivo destas ações é a importante expansão da difusão do sistema de produção de leite à base de pasto, que, entre outros aspectos, preconiza a utilização da pastagem como fonte básica de alimentação dos animais, o cultivo e manejo das forragens mais adaptadas a cada condição regional, o piqueteamento da área de pastagem e o pastoreio racional rotativo.
Foto: Luciano Coca/Agência Estado |
Existem outras iniciativas como a dela ao redor do país?
Este trabalho extrapola fronteiras, experiências bem sucedidas e materiais genéticos são adquiridos ou trocados com diversas instituições, de outros estados e também de outros países.
O oeste catarinense é a região de maior participação na produção leiteira, concentrando pouco mais de 70%. O senhor pode falar um pouco mais sobre essa região, os principais laticínios, os tipos de pastagens, o tamanho das propriedades, o perfil do produtor?
A atividade leiteira só não tem prioridade no nordeste do estado, região onde a agropecuária tem menos importância econômica. Nas outras regiões a atividade tem crescido muito, porém, no oeste catarinense se concentram muitas condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Com solo fértil e clima favorável, com temperatura amena e regime de chuvas, geralmente, bem distribuídas, as pastagens com espécies bem adaptadas produzem forragens de qualidade para a alimentação dos animais.
Nesta região predomina a pequena propriedade que, por uma questão de escala, precisa investir em explorações de alta densidade econômica, como a produção leiteira. A atividade é desenvolvida, em geral, por pequenos produtores, com mão de obra familiar, e com pouca necessidade de insumos e recursos financeiros externos.
O produtor rural desta região tem como característica importante a cultura de diversificar as explorações e a produção leiteira sempre esteve presente na propriedade, portanto, o produtor conhece a atividade e se aperfeiçoar é uma tarefa mais fácil para estes produtores.
Historicamente, o oeste catarinense é famoso pela produção de grãos e carne. Como o leite começou a conseguir mais espaço na região? E quais os benefícios desse aumento da produção leiteira em SC?
Com o expansão do agronegócio, com a produção em grande escala, inviabilizou o cultivo de grãos nas pequenas propriedades, porque a renda obtida é insuficiente para manter uma família dignamente.
O antigo sistema de produção que combinava produção de milho com a suinocultura nas pequenas propriedades deixou de existir, com a concentração da produção de suínos. Em 1995/96, segundo o Censo Agropecuário, havia 23.527 produtores comerciais -propriedades com mais de 20 cabeças – com um rebanho de 3,96 milhões de cabeças. Em 2013, estima-se que apenas cerca de oito mil produtores possuam um rebanho efetivo de em torno de oito milhões de cabeças.
Esta mudança deixou um número significativo de produtores rurais sem alternativa de produção, capaz de auferir renda suficiente, assim, o leite chegou como alternativa. O fato de haver um parque industrial bem instalado, com tecnologia e produtos de qualidade, fomentou ainda mais esta atividade, que continua em ascensão e gera emprego e renda em toda a cadeia.
Esta mudança deixou um número significativo de produtores rurais sem alternativa de produção, capaz de auferir renda suficiente, assim, o leite chegou como alternativa. O fato de haver um parque industrial bem instalado, com tecnologia e produtos de qualidade, fomentou ainda mais esta atividade, que continua em ascensão e gera emprego e renda em toda a cadeia.
Como funciona a logística, das fazendas aos laticínios? Como é a qualidade das estradas? Existe uma distância máxima entre a fazenda e o laticínio?
Evidentemente no meio rural existem muitas estradas sem asfalto, condição ideal para o transporte da produção, mas as estradas são bem conservadas, permitindo o transporte da propriedade até o laticínio, com relativa facilidade. As indústrias estão concentradas onde também está concentrada a produção leiteira, fato que favorece a captação do leite reduzindo as distâncias.
Nestas regiões, a distância entre as propriedades rurais e as indústrias ou postos de coleta é pequena, um raio de setenta quilômetros deve abranger a grande maioria nas propriedades. Contudo, a distância não tem sido empecilho no comércio de leite. Atualmente a capacidade instalada da indústria catarinense é maior que a oferta de matéria-prima o que faz a indústria comprar leite em lugares mais distantes e até fora do estado, nestes casos, o custo com o frete reduz o valor pago ao produtor.
Nestas regiões, a distância entre as propriedades rurais e as indústrias ou postos de coleta é pequena, um raio de setenta quilômetros deve abranger a grande maioria nas propriedades. Contudo, a distância não tem sido empecilho no comércio de leite. Atualmente a capacidade instalada da indústria catarinense é maior que a oferta de matéria-prima o que faz a indústria comprar leite em lugares mais distantes e até fora do estado, nestes casos, o custo com o frete reduz o valor pago ao produtor.
Qual a média de produção de leite por vaca por ano em SC? E qual a meta a ser atingida nos próximos anos?
Temos no estado muitas propriedades com produção média de mais de trinta litros de leite/vaca/dia, porém, a produção média por vaca é menos importante que o lucro médio por vaca. Tudo depende do sistema de produção.
Um sistema de produção exclusivamente a base de pasto que produza oito litros/vaca/dia pode ser lucrativo. Em Santa Catarina, a grande parte dos produtores produz leite à base de pasto, com complementação de alimentos concentrados, nestes casos, uma produção média ao redor de quinze litros/vaca/dia é bastante frequente.