O poder do brócolis no auxílio do combate ao câncer

Estudo avaliou eficiência da suplementação do brócolis com selênio no controle de células cancerígenas
Pesquisas apontam que cerca de 21,4 milhões de pessoas serão diagnosticadas com câncer em 2030, sendo que 13,2 milhões terão como causa de morte tal doença. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a carga nacional para 2014, válida também para 2015, é de aproximadamente 576 mil novos casos e o câncer de pele tipo “não melanoma” será o mais incidente na população, totalizando 182 mil casos novos. 

Desconsiderando-se este câncer, são estimados outros 395 mil casos, os quais afetarão 190 mil mulheres e 204 mil homens.
Os dados são alarmantes e, diante deste cenário, medidas que previnam a incidência da doença tornam-se cada vez mais importantes. Segundo a farmacêutica, Patricia Bachiega, como exemplo de medidas extremamente promissoras e vantajosas pode-se destacar o consumo de alimentos funcionais. 
- Eles possuem compostos bioativos, responsáveis por modulações fisiológicas que irão resultar em benefícios ao nosso organismo. 
Entre os alimentos funcionais, o brócolis (Brassica oleracea L. var. itálica) é o que mais tem se destacado quando o assunto é a prevenção do câncer.
Mestranda pelo programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), a pesquisadora observou que os excelentes resultados do brócolis na prevenção do câncer podem aliar-se ao selênio. “Para manter a saúde humana, pequenas quantidades de selênio (55 μg por dia) necessitam ser consumidas. Sua importância deve-se ao fato deste mineral ser responsável pelo aumento na síntese de enzimas, que apresentam elevada atividade antioxidante, minimizando assim os danos oxidativos”, comenta.
Em seu estudo, Patricia avaliou o efeito da suplementação com selênio durante o cultivo do brócolis, nas atividades antioxidantes e antiproliferativas, observadas em três diferentes estádios de maturação: brotos, mudas e inflorescências. “A biofortificação proporcionou um aumento significativo na atividade antioxidante e na quantidade de compostos fenólicos das amostras que receberam o tratamento com selênio com relação as que não receberam a biofortificação”.
De acordo com a pesquisadora, “quanto a atividade antiproliferativa, para que fosse possível a obtenção de maior amplitude dos resultados, foram utilizadas seis diferentes linhagens de células tumorais: linhagens de glioma (U251), mama (MCF-7), rim (786-0), pulmão (NCI-H460), cólon (HT29) e queratinócito humano (HaCat)”.
Estádios observados - A partir do teste, pôde-se notar que o extrato do broto sem a biofortificação com selênio apresentou atividade antiproliferativa um pouco maior, quando comparado ao extrato do broto com biofortificação de selênio, sendo que o primeiro apresentou atividade citostática (capacidade de paralisar o crescimento das células) para as linhagens 786-0 e MCF-7.
Referente às amostras de mudas com e sem selênio, ambas demonstraram atividade citostática seletiva para a linhagem 786-0. “No entanto, a amostra de muda com selênio também manifestou atividade citocida (capacidade de induzir a morte celular) para a linhagem de glioma. Por fim, as inflorescências com e sem selênio apresentaram atividade citostática fraca para as linhagens MCF-7”, relata. Diante dos resultados de atividade antiproliferativa, ambas as mudas de brócolis se destacaram.
Patricia lembra que, para a descoberta de novos compostos com potencial anticâncer, o primeiro passo a ser dado é a avaliação do seu desempenho em análises in vitro. “Dessa forma, estes testes foram os primeiros passos dessa pesquisa. Mais estudos devem ser conduzidos a fim de avaliar de maneira detalhada os possíveis mecanismos de ação dos compostos bioativos do brócolis, junto ao selênio, a fim de comprovar a eficiência desta união no controle do câncer”, conclui a pesquisadora.
O estudo foi orientado pela professora Jocelem Mastrodi Salgado, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), da ESALQ, e contou com o apoio do Departamento de Produção Vegetal (LPV), da ESALQ, e com a Divisão de Farmacologia e Toxicologia, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Fonte: Assessoria de Comunicação da ESALQ
Foto: Kenji Honda/Agência Estado