Embrapa amplia o maior banco genético da América Latina
Um novo prédio de dois mil metros quadrados triplicará a capacidade de armazenamento de amostras de sementes abrigadas pelo maior banco genético da América Latina.
As novas instalações, localizadas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF), começam a operar em abril de 2014, ocasião das comemorações dos 41 anos da Empresa.
Além de mais espaço, o banco passa a ter uma característica pioneira e muito importante, pela primeira vez no Brasil, as pesquisas de conservação e uso sustentável de recursos genéticos de plantas, animais e microrganismos estarão reunidas em um só lugar. Atualmente essa unidade de pesquisa da Embrapa já conta com mais de 124 mil amostras de sementes de 765 espécies.
Com a ampliação, o banco, que será o 3º maior do mundo, poderá abrigar até 750 mil amostras de espécies vegetais, além de material genético de animais e microrganismos. Esse material é capaz de gerar novos exemplares de cada uma das espécies armazenadas, característica que faz do Banco Genético da Embrapa uma espécie de Arca de Noé dos tempos modernos.
O novo espaço contará ainda com laboratórios, câmaras de conservação de plantas in vitro (para espécies que não suportam baixas temperaturas), botijões de nitrogênio líquido e bancos de DNA para conservação de animais e microrganismos. Isso significa a garantia de disponibilidade de material aos cientistas para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias com características de interesse da sociedade, como resistência a pragas e doenças; tolerância a estresses climáticos e maior teor nutricional, entre outras aplicações.
Base para segurança alimentar e melhoramento genético
Podemos definir recursos gGermoplasma vegetal é levado para câmara fria. Conservação que permite pesquisas e a recuperação no futuro de material genético, inclusive aquele em extinção enéticos como a parte da biodiversidade que apresenta valor real ou potencial para a humanidade. Nesse aspecto, o Brasil é privilegiado, Sua biodiversidade compreende 20% de todas as espécies de plantas, animais e microrganismos do planeta, o maior patrimônio biológico do mundo sob o domínio de uma só nação.
O banco genético, ou coleção de base, como é conhecido no meio científico, recebe amostras de todas as espécies vegetais de todos os bancos mantidos pela Embrapa em todo o País.
Maurício Lopes, presidente da Embrapa, tem ressaltado que, quanto mais cresce o interesse por diversificação e agregação de valor à agricultura, na forma de novos alimentos, fibras, biomateriais e outras matérias-primas aplicáveis à indústria, mais o melhoramento genético se voltará para a biodiversidade, em busca da diversificação de espécies, sistemas e processos.
Portanto, a garantia dos trabalhos de melhoramento genético e a segurança alimentar das futuras gerações depende da conservação dos recursos genéticos em condições adequadas.
Recursos genéticos conservados. |
A geladeira do futuro
Cada material a ser conservado exige condições diferenciadas. As sementes são depositadas em câmaras frias a 20º abaixo de zero, onde podem permanecer por até 100 anos, desde que sejam feitos testes periódicos sobre sua capacidade de germinação.
No caso dos animais, são mantidos sêmen, embriões, DNA e tecidos. As raças de animais domésticos de interesse agropecuário conservadas pela Embrapa estão no Brasil há séculos, muitas desde a época da colonização e, por isso, são chamadas de locais ou naturalizadas.
Essas raças possuem características de rusticidade e adaptabilidade adquiridas ao longo do tempo como, por exemplo, resistência a doenças e estresses climáticos. Elas apresentam grande potencial de uso em programas de melhoramento genético no cruzamento com outras raças mais produtivas.
Além da conservação ex-situ, feita no Banco Genético da Embrapa, esses animais, que incluem bovinos, suínos, caprinos, ovinos, bubalinos, asininos e equinos, são conservados também in situ, em núcleos de criação distribuídos em todo o país, em parceria com outras instituições de pesquisa, universidades e associações de criadores.
O pesquisador Nuno Carolino, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária de Portugal, acredita que a valorização dos recursos locais e a capacidade de desenvolver produtos diferenciados serão fundamentais para o Brasil, devido à sua forte vocação para o agronegócio. "Há sempre uma tendência para a importação de raças e de genética adaptada aos países onde têm origem, mas por vezes sem grande sucesso a longo prazo.
Os Crioulo Lageano: resistência e excelência da carne são características da raça bovina e abrem portas para a certificação de origem recursos genéticos locais, sujeitos a uma seleção eficaz, poderão fornecer respostas a muitas necessidades da pecuária", conclui o pesquisador.
Esse trabalho em rede tem garantido as ações de conservação de recursos genéticos animais no Brasil que já coleciona exemplos de sucesso como a ovelha Crioula Lanada e o bovino Crioulo Lageano, de Santa Catarina, que, antes do reconhecimento da raça pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), contava apenas com dois rebanhos no Brasil,hoje, são 27.
Microrganismos na nova Arca de Noé da Embrapa
As coleções de microrganismos mantêm espécies com potencial para o controle biológico de pragas e insetos vetores de doenças; multifuncionais; fitopatogênicos, capazes de causar doenças em diferentes culturas de importância econômica. Esses organismos tem potencial para ser empregados em programas de melhoramento genético de plantas para seleção de variedades resistentes; e de interesse para a agroindústria e produção animal.
O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rogério Lopes, explica que toda a informação genética amplia as investigações sobre as possibilidades de exploração de características desejáveis para o desenvolvimento de novos produtos.
Um exemplo da importância da conservação de microrganismos é a produção de inseticidas biológicos, ou bioinseticidas. Esses produtos são capazes de controlar insetos-praga e mosquitos transmissores de doenças.
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia produziu três bioinseticidas, cuja tecnologia já foi transferida ao setor privado. Todos foram desenvolvidos a partir das bactérias mantidas no banco da Unidade, que hoje conta com mais de 2,3 mil espécies.
A partir da coleção de base também foram recuperadas sementes tradicionais de milho e amendoim do povo indígena Krahô, no Tocantins. Os indígenas procuraram a Embrapa após perderem suas sementes. O mesmo ocorreu com pequenos produtores de trigo de Goiás. Graças ao banco genético da Embrapa sementes de trigo veadeiro foram reproduzidas e reintroduzidas na região de Alto Paraíso (GO).
A aposta para o combate de importantes pragas como as lagartas Spodoptera frugiperda e a recém-chegada Helicoverpa armigera também reside no material guardado no banco genético. Variedades de fungos armazenados na coleção estão sendo testadas para o controle desses insetos.
Fonte: Fernanda Diniz/Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Fotos: Cláudio Bezerra