Indicador do Boi ESALQ/BM&FBovespa é referência para negócios há duas décadas
Criado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a BM&FBovespa (Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo), o Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa completa 20 anos neste mês, se aproximando da marca das 5 mil divulgações ininterruptas.
O Indicador representa a média dos negócios
efetuados no mercado físico paulista no mesmo dia da divulgação. Trata-se ainda de um exemplo de parceria
bem-sucedida entre universidade, setor privado e sociedade em geral.
Responsável pelo Indicador do boi no Cepea, o professor da Esalq/USP e pesquisador Sergio De Zen explica que, a partir de uma demanda da então BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), em 1992, o trabalho foi iniciado.
- Eles buscavam um valor que servisse como referência para liquidação financeira
dos contratos de boi gordo negociados na bolsa e, entre os centros de pesquisa
consultados, o Cepea foi o escolhido - disse De Zen, que, juntamente de outros
pesquisadores do Cepea, operadores de diferentes elos do mercado físico e
técnicos da BM&FBovespa, participou desde o início da criação do Indicador.
Entre janeiro de 1993 e março de 1994, foram feitas visitas a praticamente
todas as regiões produtoras do Centro-Sul do Brasil com o objetivo de se formar
a rede de colaboradores que seria consultada periodicamente para a elaboração
do Indicador e também de médias de regiões fora de São Paulo.
Atualmente, são contatados 1,1 mil agentes do mercado, entre
frigoríficos, pecuaristas, escritórios de compra e venda de gado e leiloeiras e
divulgados valores referentes a 28 regiões em 11 estados do País. Considerando-se
ligações telefônicas e e-mails, são 24,2 mil contatos mensais com os
colaboradores, o que representa mais de 290 mil contatos por ano.
Em parceria com a BM&FBovespa, o Cepea elabora também os Indicadores do Açúcar (desde 1996), Algodão (1998), Bezerro (2000), Etanol (2002), Milho (2004), Arroz (2005) e Soja (2006), criados com a mesma finalidade.
MetodologiaO Indicador do Boi ESALQ/BM&FBovespa representa a média ponderada dos negócios realizados no dia corrente em quatro regiões do estado de São Paulo: Araçatuba, Bauru, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. A participação de cada praça é definida pelo volume de abate dos frigoríficos nela estabelecidos e que tiveram seus negócios registrados naquele dia pela equipe Cepea.
Os valores coletados passam por tratamento estatístico que objetiva o descarte daqueles
discrepantes da média, evitando-se a influência de negócios excepcionalmente
altos ou baixos. O objetivo do Indicador é representar a média ponderada do
mercado físico paulista ao longo do respectivo dia.
O valor calculado segundo
os critérios da metodologia é transmitido por volta das 18 horas à
BM&FBovespa, que o divulga em primeira mão. A partir de então, o valor se
torna público e é retransmitido por inúmeros interessados, em diferentes meios.
Aplicações
Pecuarista de recria-engorda (processo que vai
do bezerro até o boi terminado) no município de Eldorado (MS), Manoel Ferreira de Sá e Benevides participa desde o início dessa
história.
- O Indicador facilitou muito os mecanismos de compra e venda. O preço
da arroba do boi gordo é uma base para estabelecermos o valor da reposição
(bezerro). Antes de existir o Indicador, enfrentávamos alguns inconvenientes.
Vendíamos e depois víamos que o preço subia. O termômetro de mercado era
diferente; era necessário falar com muita gente para se ter uma ideia do movimento
dos negócios. Hoje, conseguimos identificar tendências muito mais facilmente. O
‘boletim’ do Cepea funciona como um guia - avalia Benevides.
Egresso do mercado financeiro, Benevides acredita que um dos principais
desafios é ampliar a participação do produtor nos negócios futuros.
- O mercado
de boi é antigo, tem seus 35, 40 anos e sempre foi muito comum na bolsa. O primeiro
grande avanço da pecuária foi a liquidação financeira, sem perder todo o
benefício da ferramenta de hedge. Mas
ainda existe muita dificuldade de se
atingir o produtor. É preciso que mais pecuaristas trabalhem com o mercado
futuro para se proteger de variações de preços. Temos como meta aumentar essa
participação - ressaltou Benevides, que também é consultor da Câmara do Boi da
BM&FBovespa.
Há 18 anos, Alberto Pessina colabora com informações para compor o
Indicador do Boi.
- Ele (o Indicador) consegue ser um bom resumo do que está
acontecendo no mercado. Ao longo desse período, consolidou sua credibilidade,
tornando-se uma referência no mercado - disse Pessina, que é pecuarista no
estado de São Paulo e diretor da Assocon (Associação Nacional dos
Confinadores).
Para Pessina, as principais mudanças do setor ao longo das últimas duas
décadas estão relacionadas aos avanços tecnológicos, à concentração da
indústria, a partir de 2002, e à abertura para o mercado externo.
- Estamos
enfrentando, ainda, avanços da percepção do consumidor brasileiro, que vem se
tornando mais seletivo, com o aumento da renda da população. Assim, as
indústrias têm buscado soluções de melhora da qualidade e o investimento em
produtos diferenciados - completou.
Para o setor avançar, Pessina ressalta a necessidade de se elevar a
produtividade no campo, o que está relacionado à adoção mais intensiva de novas
tecnologias; de serem aprimorados os processos de controle sanitário e de se melhorar
a comunicação na cadeia produtiva, para se discutir onde agir de forma
organizada, a fim de se obter maior eficiência.
Fonte: Assessoria de Comunicação - Cepea