Especial: Entrevista exclusiva com Bruno Blecher, diretor de redação da revista Globo Rural

Paulo Palma Beraldo

A conversa de hoje é com Bruno Blecher, diretor de redação da revista Globo Rural, uma das mais importantes publicações sobre o setor rural no Brasil. 

Bruno formou-se em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo e trabalhou em dois dos mais importantes jornais do país: Estadão e Folha de S. Paulo.

Atualmente, além de ser diretor de redação da Globo Rural, Bruno é comentarista de agronegócios na Rádio CBN. 

Nessa entrevista, Bruno falou sobre algumas características da imprensa rural e, entre outros assuntos, comentou sobre a imagem e a visibilidade do agronegócio na sociedade e os preconceitos que cercam o setor.

De olho no campo: O senhor acredita que o espaço destinado ao agronegócio na mídia (canais televisivos, noticiários, jornais impressos, revistas, rádio) é condizente com a sua importância econômica para o país? Por quê?

Bruno Blecher: Cresceu muito nos últimos anos, mas ainda não é proporcional à importância econômica do setor. Por várias razões: a imprensa brasileira é excessivamente urbana, mesmo nas regiões agrícolas. Se você analisar os jornais de Cuiabá, Campo Grande e de outras capitais do agronegócio, vai perceber que há pouca notícia sobre agricultura e pecuária. 

Prevalece no país um certo preconceito contra o campo, resultado da visão “industrial” das elites, que considera os agricultores caipiras e atrasados. Nos grandes jornais, como Folha e Estadão, as notícias rurais estiveram por muitos anos confinadas aos suplementos agrícolas. Quando saía alguma manchete relacionada ao setor, geralmente era por conta de um fato negativo - a alta da inflação, quebra de safra etc. Além disso, são poucos os jornalistas especializados em agronegócio. Mas a coisa está mudando.



Qual é a importância de uma revista especializada em agronegócio como a Globo Rural, num país onde a área tem um enorme potencial de crescimento e importância?

Costumo dizer que Globo Rural não é simplesmente um programa de TV ou uma revista, mas uma instituição. A marca tem uma forte penetração no interior do país. Existem cidades onde o padre teve que mudar o horário da missa devido ao programa de TV. Mas acho que podíamos ter mais revistas dedicadas ao setor,  com maior segmentação. Há espaço, por exemplo, para uma revista dedicada totalmente à soja e ao milho.

O senhor foi editor do caderno Agrofolha (suplemento do jornal Folha de S. Paulo), que não circula mais. Vários jornais do Brasil fecharam seus suplementos agrícolas. Por que a maioria dos grandes jornais não mantêm uma editoria ou um caderno especializado em agronegócio? Esses cadernos não davam retorno financeiro? Qual a explicação?

Com o crescimento do setor, as editorias de economia passaram a dar mais espaço para o agronegócio, como você vê hoje no Valor Econômico e no Estadão. 

Os cadernos especializados perderam força à medida que os grandes anunciantes do setor, como empresas de fertilizantes e de sementes, perceberam que estavam utilizando um canhão para matar uma formiguinha. 

Ou seja, o anúncio, além de caro, atingia uma porcentagem pequena de agricultores. Era preferível gastar menos e anunciar em revistas especializadas ou usar a verba de marketing para eventos como dias de campo.

Quais as principais dificuldades de se trabalhar com agronegócio e jornalismo no Brasil?

A distância que a chamada “grande imprensa” está do campo. Ao contrário do que ocorrem em outras editorias, que costumam entrevistar suas fontes por telefone,o jornalista rural tem que botar o pé no barro. Caso contrário, não se tem matéria. Outra coisa que atrapalha é a informalidade na atividade rural. Não dá para confiar muito nos números que a gente recebe.

O senhor acha que a imagem do agronegócio na mídia é um dos desafios a ser superados por ele no Brasil?

Com certeza. A maioria das lideranças e entidades do agronegócio tem pouca habilidade em lidar com a mídia, principalmente em momentos de crise como a da votação do Código Florestal e agora neste conflito por terras entre produtores e tribos indígenas. Por conta disso, prevalece a visão maniqueísta de que todo o produtor degrada o meio ambiente, mata índio e coisa do gênero.

Quantos profissionais fazem parte da equipe da revista Globo Rural? Como esse núcleo trabalha em conjunto com as pesquisas, empresas e público? 

Temos uma equipe de 14 profissionais fixos e contratamos mais três a quatro freelancers (profissional contratado temporariamente) por mês.

Sobre os boletins do agronegócio na CBN, poderia falar mais sobre essa experiência?

Adoro fazer rádio e o boletim na CBN me dá a oportunidade de falar sobre agronegócio para o consumidor de alimentos, o que é bem interessante.

Existe uma frase que diz: “Existem dois tipos de empresas: as que investem em comunicação e as que vão desaparecer". O senhor concorda com ela?

Concordo. Só que hoje há muitas formas de investir em comunicação. Muitas empresas passaram a desenvolver suas próprias mídias.

Que dica o senhor daria para alguém que ainda é receoso em investir em comunicação no ramo do agronegócio? Quais os benefícios da relação comunicação-agronegócio?

Comunicação é fundamental para qualquer empresa, não apenas para o agronegócio.

Recentemente vimos a Editora Abril fechando revistas tradicionais. O senhor poderia falar um pouco sobre a saúde financeira da Globo Rural?

Acho que de certa forma as editoras não souberam formar seu público leitor. Você vê, por exemplo, que a classe média está crescendo no Brasil, consumindo mais, mas a circulação das revistas e dos jornais está estagnada ou até caindo. 

Todo mundo diz que o brasileiro lê pouco, mas ninguém se preocupa em criar formas de fazê-lo ler mais. Assim como os governos, as empresas de mídias são muito imediatistas.

O De olho no campo agradece a atenção de Bruno Blecher.