Rio Grande do Sul possui variedade de uva única no mundo, afirma especialista

Está confirmado: a cultivar de uva ‘Moscato Branco’, presente na Serra Gaúcha desde os anos 1930, somente é cultivada no Brasil. O município de Farroupilha (RS) responde por cerca de 50% do volume de produção da casta no País. 
A informação é do ampelógrafo (cientista que identifica e classifica as cultivares de videira) francês Jean-Michel Boursiquot, da Universidade SupAgro, de Montpellier (França). Mundialmente conhecido por ter redescoberto no Chile a variedade Carmenère, ele esteve na região, entre os dias 27 e 31 de janeiro, para contribuir na confirmação. 

A hipótese da originalidade surgiu a partir da observação antiga de que a Moscato Branco cultivada em terras brasileiras se distinguia das uvas moscatéis cultivadas na Europa. Os primeiros resultados indicam que a suspeita é verdadeira, e que a variedade seja realmente exclusiva. 

A experiência de Boursiquot, conjugada ao trabalho dos pesquisadores da Embrapa, tornou possível a comparação, sem encontrar um par idêntico, entre amostras da Moscato Branco cultivada no Brasil e de uvas Moscato existentes em amplas coleções dos bancos genéticos de uva brasileiro e francês. Os estudos seguem, buscando-se mapear a origem e estabelecer a paternidade dessa cultivar, com a expectativa de que, em breve, possa-se conhecer que tipo de uva, afinal, ela é.

Com o avanço do projeto de desenvolvimento da Indicação de Procedência (IP) Farroupilha, para vinhos finos moscatéis, iniciado em 2009, cresceu o interesse sobre a Moscato Branco cultivada no município. Ela é utilizada na elaboração de vinhos secos finos moscatéis e do moscatel espumante.

“A confirmação da hipótese certamente ampliará o interesse pelos vinhos moscatéis elaborados em Farroupilha, fortalecendo os conceitos de tipicidade e qualidade associados a essa origem, que são os elementos de base no processo de desenvolvimento da IP”, analisa o coordenador do conselho técnico da Afavin, João Carlos Taffarel. 

O apelo positivo é reforçado pelo pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Jorge Tonietto, que coordena o projeto da Indicação de Procedência Farroupilha. “As Indicações referem-se a produtos de origem, em que se valorizam os diferenciais característicos de determinado local na elaboração de um produto. No caso de Farroupilha, em que o trabalho é focado nos produtos moscatéis, o fato de se ter uma variedade que resulta em vinhos com características de gosto e aroma Moscato de qualidade, sendo cultivada somente aqui, aumenta o caráter de originalidade da IP, distinguindo-a na produção de vinhos mundial”, comenta. 

A também pesquisadora da Embrapa Patricia Ritschel observa, igualmente, que o indício de originalidade aumenta o interesse acerca da cultivar, o que conduz a desdobramentos significativos para os produtores. “Ainda serão desenvolvidos trabalhos envolvendo aspectos agronômicos, fenológicos e enológicos, incluindo microvinificações, possibilitando a seleção de clones que melhor se adaptem à região, bem como orientações para a utilização de determinadas técnicas de manejo, questão importante para o agricultor, no sentido de favorecer a qualidade e a evolução no cultivo dessa casta tão expressiva para Farroupilha”, comenta. 

Uma das coordenadoras do Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa, ela acrescenta que a uva ‘Moscato Branco’ foi selecionada no Programa para ter o seu genoma sequenciado no Brasil. “Isso permitirá um detalhamento ainda maior na caracterização genética e molecular, abrindo possibilidades de análises potenciais para aprofundar o estudo da biologia da cultivar, com base no conhecimento da sequência do seu DNA. Com isso, questões importantes como o aroma e a adaptação da cultivar às condições brasileiras poderão ser mais exploradas”, completa.

Participa do trabalho de identificação, ainda, o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho João Dimas Garcia Maia, que, com Patrícia, coordena o Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa.

Fonte:
Giovani Capra
Embrapa Uva e Vinho
Fotografia: Valtair Comachio